sexta-feira, 26 de abril de 2013

"EU VIM VENDIDO PRO GOIÁS"

Construção de Brasília, 1959, Luiz Carlos Barreto.
Fonte: http://www.colecaopirellimasp.art.br/autores/167/obra/587

Relendo o livro A construção de Brasília: modernidade e periferia de Luiz Sérgio Duarte da Silva - que aliás foi meu orientador no mestrado - me deparei com um trecho de depoimento de um 'candango' que havia passado batido nas leituras anteriores. Fiquei encucado. 
Trata-se de um trecho do quarto capítulo intitulado "A construção de Brasília como experiência moderna na periferia capitalista: aventura e alienação", dentro da primeira seção: A aventura, onde Da Silva reconstrói, através de um diálogo entre a memória dos construtores e uma teoria da modernidade crítica da ideologia do progresso, a experiência singular vivida pelos indivíduos que se dispuseram a participar do grandioso projeto desenvolvimentista na região de fronteira.
Especificamente o trecho está situado junto com outros depoimentos que evidenciam a experiência da aventura rememorada pelos depoentes, que são divididos em duas categorias entre aqueles para os quais a aventura é uma reconstrução e outros em que ela é uma "simples possibilidade construtiva". O trecho do depoimento que transcrevo abaixo situa-se na segunda categoria:
Eu para mim... pra minha vida... como eu falei para vocês que eu trabalhava numa roça na Bahia, e vim VENDIDO pro Goiás e EU VIM VENDIDO PRO GOIÁS e eu vim viver aqui dentro do DF. Pra mim tudo... a construção de Brasília... E eu devo a minha vida a Brasília... E tudo que eu aprendi foi em Brasília. Foi onde eu tive a oportunidade de aprender alguma coisa foi em Brasília. [Bispo I] (1997: 84)
Como assim, vendido? Houve um tráfico de escravos em pleno momento moderno da nação? Infelizmente Da Silva não aprofunda a questão e assim não podemos ficar sabendo quem foi Bispo I, e principalmente qual o significado da afirmação: "eu vim vendido". Há outro trecho quando trata da "democracia da fronteira" em que aparece novamente depoimento de Bispo I:
Nessa época não podia achar que nego não sofreu, porque não tinha jeito, não é? ... Mas, a gente não sofria tanto, de que... alguns problemas que a gente sente hoje porque parece que não tinha maldade sabe? Nas pessoas então tinha assim... parece que era tudo irmão. Era engenheiro, era peão, tudo assim aquela coisa. (Idem: 81)
Este depoimento ajudava a confirmar uma "experiência autêntica", produtora da crença da construção de uma "cidade de tipo novo", onde se poderia viver uma "vida diferente". Para Da Silva, os construtores "experimentaram a rara junção de trabalho e felicidade" (ADORNO), o que contribui para que suas lembranças, não emergissem como mera idealização, mas evidenciando um exemplo de sabedoria. Sendo os depoentes definidos como narradores que aconselham, proporiam um conselho para o presente, o de que aquele momento singular no canteiro de obras e nos espaços de sociabilidade que se materializava na aventura as relações humanas aproximaram-se do ideal. Ideal corroído pela passagem do tempo e pela transformação dos sonhos em novas realidades menos heroicas e mais desiguais.
Já perguntei ao professor Luiz Sérgio Duarte da Silva sobre o significado do "EU VIM VENDIDO",   aguardemos a resposta...

segunda-feira, 15 de abril de 2013

16 DE ABRIL DE 2013 - 14 ANOS DE UEG: COMEMORAR, MOBILIZAR, REFLETIR...?



Esclarecimento aos alunos das disciplinas - História e Cultura Afro-brasileira e História da América II, que querem saber se amanhã haverá aulas.
Pois bem, a paralisação de amanhã foi definida em duas Assembleias ocorridas em Anápolis (Unucseh) e Goiânia (Eseffego).
Para muitos as Assembleias não têm legitimidade.
Para outros tais mobilizações são perca de tempo, ações sem resultados práticos.
Ainda existem aqueles que desejam a paralisação para descansar, tirar o atraso de seus compromissos.
E também existem aqueles que acreditam que sem pressão a UEG continuará sofrendo a intervenção de interesses que não fazem jus à verdadeira finalidade de uma instituição de ensino superior (ensino, pesquisa e extensão). 
Deve-se somar, também, aqueles que acreditam em uma quase predestinação, haverá uma evolução natural ao longo do processo histórico. Assim, seja através do embate ou da acomodação, na UEG, serão consolidadas a autonomia administrativa, um plano de cargos e salários digno, a assistência estudantil, as reformas e ampliações dos espaços físicos, a criação de laboratórios e principalmente a necessária reestruturação. 
Junto a estes últimos estão aqueles que esperam que alguém aja por eles, traga os benefícios. Ação típica de nossa cultura paternalista - "ignorância pluralística", "cultura do silêncio", "jeitinho", "compadrio" - que se exacerba nas terras dos  novos coronéis sempre iguais.
Todos estes, ao avançar as negociações do processo político necessário, ao materializar-se as demandas regozijarão e se beneficiarão. E tenho certeza, nem o mais doido de "jogar pedra" renunciará aos direitos adquiridos, e muito menos à consolidação institucional.
Dito isso, posso responder à dúvida dos alunos. 
Haverá aula sim, pois, não houve uma decisão da comunidade universitária da Unu-Morrinhos.
Quanto ao curso de História, não recebi nenhum comunicado do coordenador, que falou em reunir os colegas em uma reunião para definir se paralisaríamos ou não.
Eu também disse que iria paralisar no dia 16 de abril. Mas é que "eu não sou besta pra tirar onda de herói..." e portanto, haverá aulas.

sexta-feira, 29 de março de 2013

DROGAS: PORQUE LEGALIZAR


Legalizar para preservar vidas Talita Rodrigues - 27/03/2013

“Os maiores prejuízos e perigos das drogas ilícitas são causados pela sua proibição. Mais pessoas morrem na guerra contra a maconha e a cocaína, do que pelo uso dessas drogas. Com a legalização das drogas, não haverá mais autorização para matar pessoas com o carimbo de traficantes”, afirmou o delegado Orlando Zaccone, mestre em Ciências Penais, durante a abertura do Curso de Atualização na Atenção ao uso Prejudicial de Álcool e outras Drogas da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV). “As drogas matam proibidas e legalizadas, mas proibidas matam mais porque matam não só pelo uso, mas também pela proibição. Podemos reduzir os danos com a legalização da venda e do consumo”, destacou Zaccone, acrescentando que não é a favor do consumo das drogas, mas da legalização de seu uso. “O campo da moralidade é individual. Posso ser contra o uso, mas entender que a legalização é benéfica para a sociedade. Não devemos confundir a legalização com o estímulo ao consumo”, completou.

Para Zaccone, a proibição é uma tragédia social porque ao criar a figura do ‘traficante’, torna uma pessoa ‘matável’ ou alvo de uma política carcerária ineficiente e cruel. Ele ressaltou que o Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo, com cerca de 500 mil presos. “A prisão não resolve o problema. Lotamos o cárcere de pessoas rotuladas como traficantes. Isso é muito pior que o consumo de drogas do mundo. Somos um país que está levando para o cárcere crianças e jovens envolvidos com drogas. É muito fácil colocar os problemas para dentro do cárcere ou da vala”, disse o delegado. “Para reduzir os efeitos das drogas, temos que ir pela legalização e o Brasil está muito atrasado nessa questão. Outros países já entenderam que a solução das drogas passa por uma legislação mais branda”, comparou.


De acordo com dados da Anistia Internacional, em 2011, nos 20 países que tinham pena de morte instituída, 676 pessoas morreram condenadas. No mesmo ano, 524 pessoas foram mortas pela Polícia Militar no Rio de Janeiro e 437 em São Paulo, totalizando 961 mortes em apenas dois estados, 42% a mais que em todos os países com pena de morte. “E essas mortes são legitimadas por uma guerra contra as drogas”, observou Zaccone, explicando que quando um PM mata em serviço, é aberto um inquérito como auto de resistência, ou seja, legítima defesa do agente da lei. O PM responde ao inquérito em liberdade e se provar que não tem culpa, não tem processo. “Legítima defesa não condena, 95% a 99% dos inquéritos são arquivados e as mortes são legitimadas. O Ministério Público pede o arquivamento e o juiz de direito legitima a matança”, explicou.


Segundo o delegado, a maioria dos arquivamentos são feitos na comprovação de que o morto era traficante. “Junto com o morto, apresentam sempre uma arma e uma quantidade de drogas e o confronto é sempre em um local conhecido como ponto de venda de drogas. Se morre na favela um negro, jovem, com armas e drogas, já tem o ‘selo’ de traficante e está legitimada a morte. Então, no Brasil, tem pena de morte. A exceção virou regra e o Brasil trabalha em estado de exceção permanente com a execução de pessoas rotuladas como traficantes”, destacou Zaccone. “Temos uma legislação criminal que suspende o direito à vida dos traficantes. Isso já seria suficiente para propor a legalização das drogas ilícitas. O traficante não é visto como um ser humano, por isso, se autoriza sua execução. O fato de a pessoa ser identificada como criminosa não pode dar o direito de o policial matá-la. Se mata o traficante é legítimo, mas se mata o estudante não é. Mas o estudante pode ter morrido trocando tiros com a polícia e o traficante, implorando pela vida. E o policial só é punido quando a mãe consegue provar que seu filho não é traficante, mas a mãe do traficante também pode exigir a garantia da vida do seu filho porque não temos pena de morte instituída no Brasil”.

Proibição

O fato de a saúde não entrar na questão da proibição ou não de uma droga é outro problema levantado por Zaccone. “Todas as drogas, lícitas ou ilícitas, trazem malefícios à saúde. Não tem uma distinção científica para definir por que algumas são proibidas e outras são permitidas. O fato de uma droga ser proibida ou não, não é uma questão de saúde, mas uma construção política de um ambiente social”, destacou o delegado, acrescentando que, em 2014, o álcool, que em alguns países árabes é proibido, vai patrocinar a Copa do Mundo de futebol, o maior evento esportivo do mundo. “E, segundo pesquisas, o álcool é a droga que mais causa danos à população. Mas a propaganda de bebidas não é proibida como a de cigarros e essa diferença de tratamento é fruto do lobby das indústrias no Congresso Nacional. Os prejuízos causados pela proibição da propaganda de álcool seriam muito maiores que os do cigarro. Quando se fala das drogas ilícitas, se esquecem das lícitas. O álcool causa acidentes de trânsito, violência doméstica e não se fala dos efeitos nocivos do álcool. Mas será que a proibição do álcool iria resolver?”, questionou Zaccone.


No caso das drogas, o controle e a proibição do uso de uma substância muitas vezes estão ligados também ao público usuário. Zaccone lembrou que a maconha, por exemplo, foi proibida há dezenas de anos porque era usada pelos escravos e havia um movimento para reprimir tudo que vinha desse grupo de pessoas, não só a maconha, como também a capoeira e o samba, por exemplo. O objetivo não era controlar o uso da droga, mas a população que fazia uso dela. “O que acontece hoje com o crack é um movimento parecido. Não existe uma preocupação humanista. Querem controlar quem usa essa substância e está nas ruas”, destacou.


Segundo o delegado, de acordo com informações da Prefeitura do Rio de Janeiro, 70% das pessoas recolhidas nas ruas em operações contra o uso de crack não têm problemas com drogas. “A área de saúde pública está contaminada pela polícia. Estão fazendo uma faxina social para tirar das ruas as pessoas que estão no que eles chamam de cinturão de segurança do Rio de Janeiro (Zona Sul, Tijuca e Avenida Brasil até o aeroporto). A luta contra a internação compulsória é um marco e temos que politizar esse debate”, ressaltou.


Zaccone destacou que quanto mais se proíbem as drogas, mais elas são vendidas e consumidas. Já com a legalização, elas passariam a ter sua venda regulamentada. “O crack e a cocaína podem ir para o mercado como permitidos, com regras para a venda e o consumo dessas substâncias. O comércio em uma drogaria é mais saudável do que em uma boca de fumo porque não tem morte, não tem disputa. A violência e a corrupção não são produtos do uso da droga, mas da sua proibição”, disse.


Para o delegado, um mundo sem drogas, como o proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU), nunca vai se realizar, pois não existe uma sociedade que não tenha um desvio, algumas vezes até positivos e necessários. “As pessoas vão continuar usando drogas porque há muito tempo a humanidade já fazia uso de muitas dessas substâncias que hoje são proibidas. Além disso, diversas substâncias podem trazer problemas para as pessoas. Tem gente que tem problemas com a comida. Então, vamos proibir a comida?”, questionou.

Curso

A conferência ‘Drogas: os prejuízos da proibição’ foi proferida durante a abertura do curso de Atualização na Atenção ao uso Prejudicial de Álcool e Outras Drogas, no dia 22 de março.
O curso é oferecido há sete anos pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio e, neste ano, tem uma turma formada por 51 alunos que atuam em serviços do Sistema Único de Saúde em diversos municípios do estado do Rio de Janeiro.


Fonte: http://www.epsjv.fiocruz.br/index.php?Area=NoticiaInterna&Num=264&Destaques=1

terça-feira, 12 de março de 2013

"DERRAMA SOBRE NÓS O SEU AMOR..."

Enquanto os católicos aguardam em oração o Conclave e a escolha do novo Papa relembro trechos de duas grandes obras ("Os irmãos Karamazov" do russo Fiódor Dostoiévski; "Casa-grande & senzala" de Gilberto Freyre) que nos falam do amor de cristo atuando nas relações entre os educadores cristãos e seus pupilos. 

'Gregório ensinou-o a ler e a história sagrada desde que completou 12 anos. Mas esta tentativa foi infeliz. Um dia, numa das primeiras lições, o menino pôs-se a rir. 
- Que tens? - perguntou Gregório, olhando-o severamente por cima de seus óculos.
- Nada. Deus criou o mundo no primeiro dia; o sol, a lua, e as estrelas no quarto dia. Donde vinha, pois, a luz do primeiro dia?
Gregório ficou estupefato. O menino olhava seu amo com ar irônico, seu olhar parecia mesmo provocá-lo. Gregório não pode contentar-se: "Eis donde ela veio!", exclamou, esbofeteando-o violentamente.'
Fiódor Dostoiévski. Os irmãos Karamazov. São Paulo: Abril Cultural, 1970, p. 126
'Os padres-mestres e os capelães de engenho, que, depois da saída dos jesuítas, tornaram-se os principais responsáveis pela educação dos meninos brasileiros, tentaram reagir contra a onda absorvente da influência negra, subindo das senzalas às casas-grandes; e agindo mais poderosamente sobre a língua dos sinhô-moços e das sinhazinhas do que eles, padre-mestres, com todo o seu latim e com toda a sua gramática; com todo o prestígio das suas varas de marmelo e das suas palmatórias de sicupira. Frei Miguel do Sacramento Lopes Gomes era um dos que se indignavam quando ouvia "meninas galantes" dizerem "mandá", "buscá", "comê", "mi espere", "ti faço", "mi deixe", "muler", "coler", "le pediu", "cadê ele", "vigie", "espie". E dissesse algum menino em sua presença um "pru mode" ou um "oxente"; veria o que era o beliscão de frade zangado.'
Gilberto Freyre. Casa-grande & senzala. 46ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2002, p. 389.

segunda-feira, 4 de março de 2013

PANIS ET CIRCENSES: executivo pra que?


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"MacCartney em Goiânia?
O governo busca patrocínios para realizar um show de Paul MacCartney no Estádio Serra Dourada. Seria entre abril e maio, quando o cantor estará em turnê pela América do Sul."
Coluna Giro - O Popular - 27/03/2013

Diversas lideranças do atual executivo goiano - Avança Goiás - criticam a intervenção estatal na economia até a perna de mesa cansar, mas querem produzir show internacional? Que coisa estranha. Bom, mas vamos mudar isso aqui, melhor dizer, promover show de McCartney, abaixo vem a dica de quem deverá produzir.

Tentam privatizar a Saneago.

Entregam os hospitais públicos para Organizações Sociais.

Aos poucos entregam algumas escolas para a iniciativa privada gerir, o conceito charter, e claro, com dinheiro público. 

Essa nova função do executivo estadual deve ser bem mais divertida, como deveriam ser as organizações dos torneios de gladiadores em Roma. 

Sei que alguns 'jovens' produtores trabalham como comissionados na Secult, de repente conseguirão trazer o ex-beatle na "brodagem".

Se bem que deverão terceirizar o serviço para a IDESA.

[PS. Pablo Kossa ex-Fósforo e assessor da Secult informa em seu twitter, 12/03]
É o que devemos chamar de patrimonialismo - confusão dos limites entre o público e o privado -  do século XXI.

Em todo caso a notícia já começa a surtir efeito para as eleições do ano que vem, como demonstra a carta do Gênio:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=522852161099629&set=a.209230439128471.74232.169846879733494&type=1&theater
Não serei hipócrita, se McCartney fizer show em Goiânia deverei curtir -ir ao show-, ainda que contrariado.


Nessa onda de desobrigação do executivo com suas funções, o governador poderia entregar o IPASGO para os servidores, gostaria de ver essa experiência, já que o instituto está quase quebrado, apesar de descontarem obrigatoriamente nos pagamentos de todo servidor estadual.

E hoje, 12/03 imprensa confirma o show:

E assim, Goiás avança: http://goo.gl/DgO7m

Aliás, em Belo Horizonte o show de Paul McCartney foi confirmado pelo Secretário de Estado Extraordinário da Copa do Mundo, Tiago Lacerda - nomeação questionada pelo ministério público de MG- , filho do atual prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda do PSB.

Do blog de Fabiana Pulcinelli temos novas notícias, sobre valores:

Governo estadual pagará R$ 1 milhão por show do Paul McCartney em Goiânia
O governo de Goiás está disposto a bancar a metade do valor do show do Paul McCartney em Goiânia, de R$ 1 milhão. A outra cota de patrocínio deve ser fechada esta semana com uma empresa.

Conforme divulgou O POPULAR hoje com exclusividade, o show será na primeira semana de maio, no estádio Serra Dourada. Hoje pela manhã, a informação do governo é de que a data mais provável é dia 5.
Luiz Oscar Niemeyer, produtor do Paul na América do Sul, esteve em Goiânia na semana passada, junto com equipe técnica, quando conheceram estádio e hotéis. Luiz, neto de Oscar Niemeyer, também visitou o Centro Cultural que leva o nome do avô e sugeriu realizar evento de anúncio do show no local.
Os valores dos ingressos ainda não foram definidos, mas o governo afirma que deve ser na média dos preços do show em Fortaleza e Belo Horizonte. Lá os valores ainda não foram divulgados.
Quem levou a ideia do show em Goiânia ao governo foi o cantor sertanejo Zezé di Camargo, goiano de Pirenópolis. Luiz Oscar comentou que gostaria de fazer o show em Brasília, mas que o estádio não estaria pronto, e perguntou se seria uma boa opção a capital goiana. Zezé entrou em contato imediatamente com o governador Marconi Perillo (PSDB), que ficou entusiasmado com a possibilidade e acelerou as articulações. O tucano viu o show do ex-beatle no Rio em 2011.
"R$ 1 milhão não é nada perto do que vamos movimentar a cidade e pela importância de um show como esse. Vai vir gente de Minas, Tocantins, Brasília. Isso movimenta muito a economia", diz uma fonte do governo, que participa da negociação.
http://www.opopular.com.br/blogs/fabiana-pulcineli/blog-da-fabiana-pulcineli-1.526

Brasilililililil!!!!!!!!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

EM TORNO DA INDÚSTRIA DA CULTURA

Não creio ser pedante apresentar uma correção feita por Flávio Khote para uma noção vulgarmente difundida quando se propõe a analisar produção artística e cultural na contemporaneidade.
"A sociologia usa a expressão "indústria cultural", que neutraliza o sentido crítico de "Kulturindustrie", "indústria da cultura", usado por Adorno e Horkheimer em 1947, no livro Dialektik der Aufklaerung, Dialética do iluminismo (também mal traduzido como "Dialética do esclarecimento"). O termo "indústria cultural" sugere que a indústria "é" cultural, mas o sentido original é que a industrialização da cultura, em que esta é confundida com a mercadoria, constitui um ataque à cultura, reduzindo-a à diversidade e à banalidade". Flávio R. Khote. Nota do tradutor. In: (sel.; trad.) NIETZSCHE, Friedrich. Fragmentos finais. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2007, p. 15.
Ainda que esclarecida a confusão, me arrisco a dizer que na perspectiva 'frankfurtiana' certamente no Brasil estaríamos reduzidos à arte menor, à cultura banal e diversa. Em volta da questão da indústria da cultura alguns textos recentes circulam pela internet e aguçam a reflexão.
Mino Carta em editorial da revista Carta Capital critica o que chama de imbecilização do Brasil, mais do que discutir a produção artística, o jornalista coloca a grande mídia, sobretudo Globo e Veja como as grandes vilãs nesse processo. Ao que parece o espectro adorniano ronda a análise de Carta: 
O deserto cultural em que vivemos tem largas e evidentes explicações, entre elas, a lassidão de quem teria condições de resistir. http://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-imbecilizacao-do-brasil/
A também jornalista da revista Carta Capital, Cynara Menezes, respondeu Mino Carta defendendo uma perspectiva para arte que questiona a ideia de deserto cultural e imbecilização do Brasil. A socialista morena já se distancia da perspectiva iluminista adorniana para defender a ideia de que do "lixão nasce flor", retomando metáfora que finaliza texto de Carta:
Nos últimos anos, uma nova cultura está surgindo, mas é preciso ter olhos para vê-la. É forte a cultura que vem da periferia e cada vez mais será. http://www.socialistamorena.com.br/em-que-tipo-de-arte-voce-acredita-ou-a-imbecilizacao-da-elite/
Outro texto é uma entrevista muito interessante do antropólogo Hermano Vianna, que diferente da socialista morena não crê na ideia de inclusão para falar em arte e cultura, e se posiciona em uma perspectiva relativista: 
Constantemente me pego fazendo coro para Hêmon brigando com seu pai Creonte, em Antígona: "Guarda-te, pois, de te apegares a um só modo de pensar, crendo que o que dizes, e por seres tu que o dizes, exclui qualquer outra possibilidade de ver e sentir as coisas". Não tem quem me convença que há um fundamento estético único a partir do qual podemos decretar o empobrecimento ou o enriquecimento das criações humanas. Mas digamos que há: então encontro no funk muitos elementos que o tornam superior a uma sub-MPB que tentam me empurrar como música de qualidade. O tamborzão do funk salvou a música brasileira na virada do século 20 para o 21. É vanguarda mesmo, concretismo eletrônico afro-brasileiro. Mas para quem acha que hip hop não é música, ou que Stockhausen não é música, o que estou falando é delírio. Um consolo é saber que a produção da gravadora Motown um dia foi considerada por todos os críticos como lixo comercial sem futuro. http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-abacaxi-da-cultura,995433,0.htm
Entre essas reflexões cada uma ao seu modo tem trechos que me desagradam e outros que me aprazem, mas sobretudo contribuem ao seu modo para que eu amadureça um estudo sobre culturas políticas do rap no Brasil e em Cuba durante os anos 1990.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O RÁDIO NÃO ACABOU COM A FAMÍLIA


Se hoje o casamento gay é tido como uma ameaça a família, na primeira metade do século XX, para Mário de Andrade, o rádio era a ameaça:
"Na sociedade contemporânea, com a ascensão do proletariado e da pequena burguesia a ele adesiva, os dois grandes instrumentos musicais do nosso tempo, vitrola e rádio, especificamente popularescos, mostram a definitiva derrota da vida familiar (substituição do piano - família, pelo rádio = colectividade popularesca) como princípio básico da sociedade".   Mário de Andrade em carta para Oneyda Alvarenga, 1940 (Apud, QUINTERA-RIVERA, Mareia. A cor e o som da nação: a idéia de mestiçagem na crítica musical do Caribe hispânico e do Brasil (1928-19480). São Paulo: Annablume/FAPESP, 2000, p.119)
As primeiras transmissões radiofônicas no Brasil ocorreram em 1922, no link a seguir o site de Magali Prado - certamente o mais completo sobre a história do rádio no Brasil: http://www.historiadoradionobrasil.com.br/
Nos 90 anos de rádio no Brasil o Observatório da Imprensa realizou um programa especial, que conta com a própria Magali Prado e outros especialistas, além de gente que ajudou a fazer o rádio no Brasil. Vale a pena ser visto: 
Enfim, o rádio não acabou com a família - inclusive algumas famílias foram formadas através da mediação radiofônica -, e nem as transformações tecnológicas acabaram com o rádio. Certamente a família e o rádio não são os mesmos da década de 20 do século passado, transformações inevitáveis, pois nada é constante entre o céu e a terra, sobretudo quando se trata de produtos humanos. 
Aliás, se Mário de Andrade, um homem de sexualidade indefinida, vivesse nos dias de hoje, caracterizados por uma moralidade mais maleável, possivelmente não faria ressalvas ao casamento gay e quiçá defenderia o rádio analógico contra o rádio digital pela preservação da qualidade sonora.