quinta-feira, 29 de março de 2012

BRASILEIRO PASSIVO? - O CASO PAULISTA

O professor Romualdo Pessoa postou uma frase do Millôr Fernandes em seu perfil do facebook, e achei interessante poder refletir sobre ela: 
Não precisa se preocupar pois não haverá epidemia de cólera. O nosso povo morre mesmo é de passividade
O colega Sérgio Loiola comentou:
Somos uma sociedade laica e conformada, é triste ter que admitir...
Eu não entendi bem o sentido de laico no comentário do Sérgio, mas quero discordar. A passividade e o conformismo são uma construção das elites, inclusive de esquerda. Em diversos momentos de nossa história o povo se rebelou, porém foi tratado com tamanha violência e com dispositivos apaziguadores e amenizadores que parece mesmo que somos assim, passivos.
Mas qual é o papel da historiografia e da intelectualidade na construção dessa perspectiva?
A figura do "bilontra" construída por José Murilo de Carvalho para explicar a participação popular no Rio de Janeiro no contexto da transição do Império para a República nos ajuda a refletir sobre essa construção de um povo passivo, ou mesmo da falta de um povo. O deboche, o cinismo e a indiferença seriam atitudes possíveis e subversivas ante o mundo das aparências da política oficial.
O documentário Lutas.doc de Danielo Augusto e Luiz Bolognese contribui ainda com a reflexão:


E ainda, seria necessário pensar no papel dos meios de comunicação na construção desta perspectiva, sobretudo porque no Brasil a mídia está nas mãos de algumas famílias.
Vejamos alguns casos específicos, como o tratamento dado por J. Pitomba no jornal Correio Paulistano de 02 de agosto de 1947 aos protestos contra o aumento das passagens de ônibus em São Paulo:
O povo é magnânimo e paciente, só perde a tramontana e se convulsiona nos momentos de profundas e generalizadas inquietações, quando a consciência coletiva exige uma alteração decisiva de valores sociais. As perturbações da ordem, como as de ontem são obras da multidão que não só não tem uma consciência homogênea, como age no impulso de paixões exacerbadas e sem finalidade doutrinária ... alguma coisa de mais grave e fermentadíssima deve haver no íntimo das massas. Uma simples elevação, nas passagens de bondes, não basta para explicar o desvairamento das atitudes agressivas, violentas e destruidoras de ontem. Compete ao governo tomar nota de todo o acontecido e chegar à conclusão de que medidas muito oportunas e prudentes devem ser tomadas para que o contágio da inquietação aguda, não tome um caráter generalizado, transformando-se numa comoção específica que costuma ter o nome de movimento revolucionário. Fonte: http://www.redalyc.org/redalyc/html/263/26305003/26305003_5.html
Agora comparemos com os acontecimentos de hoje (29/03/2012) em São Paulo e a maneira com que foi noticiada a revolta popular no Jornal Hoje:
Passageiros de trens enfrentam a polícia e depredam estação em SP

Os passageiros ficaram revoltados com uma pane no fornecimento de energia elétrica dos trens. Eles queimaram a bilheteria, quebraram catracas e destruíram parte da estação de Francisco Morato.
http://g1.globo.com/jornal-hoje/videos/t/edicoes/v/jornal-hoje-2903/1880222/

 Creio que não se conseguirá ver o vídeo pois está disponível apenas para assinantes, mas no Youtube temos o plantão:
E o que você acha, somos mesmo um povo passivo?
E quando eu escrevia o post a amiga Márcia Panther me indicou esse vídeo aqui para ajudar na reflexão:

segunda-feira, 19 de março de 2012

Estado laico e religião: confusão e maracutaias na educação

Espero que o STF oriente a relação entre religião e educação no Brasil. Eu sou crítico do ensino religioso nas escolas públicas, pois acredito que a fé é de âmbito privado e pessoal, portanto, dever exclusivo das famílias. Famílias que se quiserem um ensino confessional e religioso podem matricular seus filhos em escolas que possuem este perfil. 
As notícias abaixo apresentam alguns fatos ocorridos que ajudam a refletir e avançar, assim espero, na reafirmação do estado laico e no direito à diversidade religiosa, muitas vezes desrespeitados pelas visões estreitas e colonizadoras:
Folha de São Paulo, 18/03/2012 - São Paulo SP
União ameaça fechar faculdade que repassa verba federal a igrejas
DE SÃO PAULO - O Ministério da Educação informou que as denúncias contra o grupo educacional Uniesp poderão levar ao fechamento das faculdades. Já a Polícia Federal deve apurar o caso civil e criminalmente. Conforme a Folha revelou, a Uniesp fecha convênios com entidades religiosas, que indicam novos estudantes. Em troca, o grupo repassa 10% do que receber do Fies (financiamento estudantil federal) por indicado. O mesmo vale para bolsista do governo de SP. A Folha constatou ainda, com atendentes das faculdades, que a mensalidade para aluno do Fies é mais alta. A Uniesp nega os valores diferentes. Sobre repasses, diz que busca encontrar aluno pobre para atendimento.
Terra Educação, 19/03/2012
Organizações educacionais querem limitar ensino religioso nas escolas
Organizações educacionais e ligadas a direitos humanos querem limitar o ensino religioso nas escolas públicas do País. O grupo quer proibir políticas como a do governo de São Paulo, que prevê o ensino religioso do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental. O Ministério Público Federal viu como inconstitucional o decreto presidencial que confirma o acordo entre Brasil e Igreja Católica e a discussão foi parar no Supremo Tribunal Federal. As informações são do jornal Folha de S. Paulo. Para o MP, o texto que cita a presença do ensino "católico e de outras confissões" abre espaço para que haja catequese nas escolas, ao usar o temo "confissões". O órgão defende que o ensino deve se restringir a exposição de práticas e da história das religiões. Os gurpos envolvidos, Ação Educativa, Relatoria Nacional para o Direito Humano à Educação, Conectas Direitos Humanos, Ecos e Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher, dizem que os Estados infringem a Constituição. No caso de São Paulo, um dos princípios feridos, é o de que o ensino religioso deve ser optativo. Se o conteúdo é espalhado, o aluno não tem a opção de não assisti-lo.