sexta-feira, 2 de novembro de 2012

DA (IN)CERTEZA...

O dia 2 de novembro - dia de finados - possivelmente foi instituído como uma convenção no mundo cristão/católico por volta do século XIII , por algum destes papas: http://va.mu/YfNs. Possivelmente a tradição é uma manutenção de uma celebração dos celtas, povos que viveram entre Europa e Ásia a partir de 4 mil anos atrás. Os celtas celebravam a entrada do outono/inverno o fim de um ano em 1 de novembro, data que foi modificada no século XIII por coincidir com a celebração de "todos os santos". 
A questão da morte para os cristão passaria pelos seguintes pontos: 
No livro de Hebreus 9.27 se lê que após a morte segue-se o juízo. E Jesus contou sobre a situação dos mortos Lc 16.19-31. Nessa parte bíblica destacamos quatro ensinamento de Jesus: a) que há consciência após a morte; b) existe sofrimento e existe bem estar; c) não existe comunicação de mortos com os vivos; d) a situação dos mortos não permite mudança. Cada qual ficará no lugar da sua escolha em vida. Os que morrem no Senhor gozarão de felicidade eterna (Ap 14.13) e os que escolheram viver fora do propósito de Deus, que escolheram o caminho largo (Mt 7.13-14) irão para o lugar de tormento consciente de onde jamais poderão sair. (
http://va.mu/YfN2)
A questão incerta é que teríamos consciência após a morte, respondendo pelos nossos atos em vida, cujo principal é escolher seguir Jesus Cristo ou estar condenado. Disse Schopenhauer, em As Dores do Mundo, ser um erro acreditar  e afirmar a superioridade da moral cristã. Uma vez que honestidade, fidelidade, tolerância, serenidade, benevolência, generosidade, abnegação seriam encontradas entre maometanos, guebros (persas zoroastristas), hindus e budistas. Segundo texto do portal São Franscisco outras religiões e vertentes do cristianismo possuem em relação a morte as seguintes perspectivas: 
A) os espíritas crêem na reencarnação. Reencarnam repetidamente até se tornarem espíritos puros. Não crêem na ressurreição dos mortos.(Idem)
Esta é uma perspectiva que talvez dialogue com a percepção celta. Também imagino que os criadores do espiritismo conheceram a doutrina hindu.
B) os hinduístas crêem na transmigração das almas, que é a mesma doutrina da reencarnação. Só que os ensinam que o ser humano pode regredir noutra existência e assim voltar a este mundo como um animal ou até mesmo como um inseto: carrapato, piolho, barata, como um tigre, como uma cobra, etc. (Idem)
C) os budistas crêem no Nirvana, que é um tipo de aniquilamento.
D) As testemunhas de Jeová crêem no aniquilamento. Morreu a pessoa está aniquilada. Simplesmente deixou de existir. Existem 3 classes de pessoas: os ímpios, os injustos e os justos. No caso dos ímpios não ressuscitam mais. Os injustos são todos os que morreram desde Adão. Irão ressuscitar 20 bilhões de mortos para terem uma nova chance de salvação durante o milênio. Se passarem pela última prova, poderão viver para sempre na terra. Dentre os justos, duas classes: os ungidos que irão para o céu, 144 mil. Os demais viverão para sempre na terra se passarem pela última prova depois de mil anos. Caso não passem serão aniquilados.
Aniquilamento e predestinação, eu realmente não sabia dessa visão, eu sabia que as Testemunhas de Jeová pregam sua crença de casa em casa, principalmente no sábado pela manhã. Será que a ideia das classes justificam a proibição de transfusão de sangue?
E) os adventistas crêem no sono da alma. Morreu o homem, a alma ou o espírito, que para eles é apenas o ar que a pessoa respira, esse ar retorna à atmosfera. A pessoa dorme na sepultura inconsciente. 
O culto dos ancestrais está presente nas religiões africanas ressignificadas no Brasil pelos indivíduos e grupos escravizados. Os migrantes forçados, tragos da África chegaram ao longo de mais de três séculos, trazendo consigo somente as ideias e entre elas aquelas ligadas ao supra-terreno. Os cultos aos voduns, loas e  orixás tragos pelos sudaneses - generificação de uma linagem de escravizados vindos da região Costa da Mina especificamente os fons do Daomé e  yorubás do Benin, resistem e persistem, assim como desencadearam diversas formas de religiosidade, como por exemplo a Umbanda.  O documentário de Rentato Barbiere, O Atlântico Negro-na rota dos orixás de 1997 é uma das melhores introduções à esse respeito. Os ancestrais divinizados são cultuados diariamente nos terreiros e barracões Brasil a fora e não em uma data específica.
Particularmente creio ser importante lembrarmos e mantermos vivas as relações com nossos ancestrais. Tenho uma impressão de que tal relação pode se constituir em um aprendizado constante na relação com os mais velhos. A sabedoria dos que já experienciaram, viveram é necessária para continuar os projetos e expectativas, ainda que ressignificadas e transformadas pelo passar do tempo, pelos desafios colocados pelo momento em que cada individuo e geração vive. 
Saindo do campo da religiosidade para o campo das artes compartilho algumas obras de artistas brasileiros que tratam do tema da morte, nossa única certeza, pensada e decantada em verso e prosa por alguns de nossos antepassados.
Uma relação satírica e jocosa foi expressa pelo poeta Manuel Antonio Álvares de Azevedo nascido em São Paulo, em seu O poeta moribundo presente em Lira dos Vintes Anos, obra produzida quando certamente o poeta estava moribundo, acometido por tuberculose e pelos efeitos de uma queda de um cavalo que levou à um tumor na fossa ilíaca, operado sem anestesia e falecido aos 23 anos em 25 de abril de 1852 no Rio de Janeiro.
Poetas! amanhã ao meu cadáver
Minha tripa cortai mais sonorosa!...
Façam dela uma corda e cantem nela
Os amores da vida esperançosa!
 

Cantem esse verão que me alentava...
O aroma dos currais, o bezerrinho,
As aves que na sombra suspiravam,
E os sapos que cantavam no caminho!
 

Coração, por que tremes? Se esta lira
Nas minhas mãos sem força desafina,
Enquanto ao cemitério não te levam,
Casa no marimbau a alma divina!
 

Eu morro qual nas mãos da cozinheira
O marreco piando na agonia...
Como o cisne de outrora... que gemendo
Entre os hinos de amor se enternecia.
 

Coração, por que tremes? Vejo a morte,
Ali vem lazarenta e desdentada...
Que noiva!... E devo então dormir com ela?
Se ela ao menos dormisse mascarada!
 

Que ruínas! que amor petrificado!
Tão antideluviano e gigantesco!
Ora, façam idéia que ternuras
Terá essa lagarta posta ao fresco!
 

Antes mil vezes que dormir com ela.
Que dessa fúria o gozo, amor eterno
Se ali não há também amor de velha,
Dêem-me as caldeiras do terceiro inferno!
 

No inferno estão suavíssimas belezas,
Cleópatras, Helenas, Eleonoras;
Lá se namora em boa companhia,
Não pode haver inferno com Senhoras!
 

Se é verdade que os homens gozadores,
Amigos de no vinho ter consolos,
Foram com Satanás fazer colônia,
Antes lá que no Céu sofrer os tolos!
 

Ora! e forcem um'alma qual a minha,
Que no altar sacrifica ao Deus-Preguiça,
A cantar ladainha eternamente
E por mil anos ajudar a Missa!
Fonte: http://www.jornaldepoesia.jor.br/avz.html
O que me parece momentaneamente relevante no poema acima é a oposição entre juventude e velhice, inferno e paraíso. Azevedo parece remeter a um certo paganismo, um distanciamento à moral cristã, que no seu tempo era a própria moral cidadã, através da vigência do padroado.
Amargura e ceticismo é o que nos legou Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nascido em 20 de abril de 1884 no Engenho Pau d'Arco na Paraíba. Formado em Direito no ano de 1907 não advogou, viveu do magistério, ensinando português, geografia no Rio de Janeiro além de dirigir escola em Leopoldina-MG, onde morreu em 12 de novembro de 1914. Seu poema Versos íntimos compõe sua única obra de 1912, Eu. 
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Fonte: http://www.releituras.com/aanjos_versos.asp 
Em Versos íntimos o inferno parece ser o que se vive em vida, onde os mesmos que afagam são os que ferem. Me apraz esta quebra do maniqueísmo, sinto uma aproximação com a ética das cosmogonias africanas, onde não há caminho do bem e do mal, mas uma eterna coexistência presente nas ideias e nos atos das pessoas, como nos deuses e divindades.
No âmbito da prosa temos o formidável Memórias Póstumas de Brás Cubas (1880-1881) de Machado de Assis (Rio de Janeiro, 21 de junho de 1839 - 29 de setembro de 1908). Obra considerada como  precursora do Realismo no Brasil, onde Machado de Assis nos brinda com uma narrativa de um cadáver que resolve contar suas memórias. Morto, Brás Cubas poderia não ser comedido ao tratar dos valores de sua época, época que revelava que as ideias estavam fora do lugar. Vamos ao prólogo:
AO VERME
QUE
PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES
DO MEU CADÁVER
DEDICO
COMO SAUDOSA LEMBRANÇA
ESTAS
MEMÓRIAS PÓSTUMAS
AO LEITOR
   
QUE STENDHAL confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, cousa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte, e quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual, ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.
Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio é fugir a um prólogo explícito e longo. O melhor prólogo é o que contém menos cousas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas minimamente extenso, e aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.
Brás Cubas
Fonte: http://virtualbooks.terra.com.br/freebook/port/memorias_postumas%20de_bras_cubas.htm
É preciso ler mesmo que tenha a possibilidade de levar um papirote, conhecer a vida de Brás Cubas, prenhe de ideias fixas a dar cabriolas de volatim.
Para finalizar reforçamos a veia satírica com a valsa de 1940 Romance de uma Caveira de autoria de Chiquinho Sales (1909) e gravada por Alvarenga e Ranchinho, Murilo Alvarenga (1912-1978) e Diésis dos Anjos Gaia (1913-1991) respectivamente.

Enfrentar a morte de frente pode ser uma boa possibilidade para diminuir a angústia dessa nossa única (in)certeza - que a vida findará a qualquer instante.
É preciso, ainda, lembrar que os antepassados que com a morte acertaram as contas ainda em vida permaneceram eternizados através de suas obras de arte, nos legando a oportunidade de pensar a partir de suas perspectivas.
Um brinde aos mortos, um brinde à vida! 

segunda-feira, 4 de junho de 2012

depredando o orelhão: A ascensão do Robin Hood digital (Instigações à Re...


Quem não quis ser Robin Hood? Castro desenvolve uma análise interessante para pensarmos os processo criativos para além das ideias antiquadas e cerceadoras.
depredando o orelhão: A ascensão do Robin Hood digital (Instigações à Re...: A nova face de Robin Hood? "Temos que criar um outro conceito de criação!" O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro instiga-nos ...

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Cúmplices e distraídos

O cineasta Jorge Furtado faz o que o jornalismo vendilhão em Goiás não faz. E você, é cúmplice ou distraído? 

por Jorge Furtado em 05 de abril de 2012

Pessoas medianamente bem informadas (1) sabiam muito bem quem era o senador Demóstenes Torres, o ex-Democrata e ex-moralista de Goiás. Para estas pessoas (2) fica difícil aceitar os panegíricos ao senador, elogios rasgados feitos por seus pares, que se revezaram na tribuna, em loas ao seu caráter ilibado e seu alto espírito público. Isso enquanto Demóstenes, senador da República, recebia, pelo telefone e de maneira bastante ríspida, ordens expressas de criminosos, ordens para aprovar leis ou contratar funcionários fantasmas.
Só os muito distraídos ou seus cúmplices na maracutaia - há dúvidas sobre em qual categoria inclui-se o então presidente do STF, o ministro Gilmar Mendes - acreditaram no grampo sem áudio (3), a pantomima transformada em crise institucional pelo braço midiático da quadrilha de Carlinhos Cachoeira ou, como gostam de lhe chamar, do empresário Carlos Ramos.
Pois o ramo do Ramos é, segundo a Polícia Federal e seus grampos com áudio, o crime, em várias modalidades. Sobre a turma dos cúmplices, diz a decisão da Justiça, na página 3: "Detectou-se ainda, nas investigações, os estreitos contatos da quadrilha com alguns jornalistas para a divulgação de conteúdo capaz de favorecer os interesses do crime".
Quando, em 2004, a empresa de Carlos Ramos resolveu tomar seus pontos no butim de Brasília, seu braço na mídia providenciou o vídeo que, estrelado por um corrupto de 3 mil reais, deflagrou a "crise do mensalão". A palavra é uma brilhante criação de Roberto Jefferson, advogado, tenor e réu confesso, e passou a ser, com a ampla participação da turma dos distraídos, a senha anti-petista, parece haver quem ganhe por citação, em bônus de final de ano, com um panetone.
Com a crise do mensalão (que, como lembra o Mino Carta, ainda está por provar-se), Cachoeira e amigos tomaram conta dos Correios, mas só por algum tempo. Se bem me lembro, levou dois anos para que seus afilhados por lá fossem descobertos e presos. Na época, e eu falo do período e não da revista, o democrata FHC, ao invés de derrubar o governo Lula, preferiu "sangrá-lo até a derrota".
Só que ela não veio. Veio mais Lula e, agora, Dilma.
Na Veja, e eu falo da revista, uma longa série de factóides, muitos deles criados pela quadrilha de Cachoeira, foram parar na capa. Quem afirma isto é o próprio empresário Carlos Ramos, num dos grampos:

Cachoeira: Porque os grande furos do Policarpo fomos nós que demos, rapaz. Todos eles fomos nós que demos. (...) Ele pediu uma coisa? Você pega uma fita dessa aí e ao invés de entregar pra ele fala: "Tá aqui, ó, ele tá pedindo, como é que a gente faz?". Entendeu?

Poliocarpo, no caso, é o Júnior, editor-chefe da revista em Brasília, um bom camarada de conversas do empresário Carlos Ramos, trocaram mais de 200 telefonemas. Com as fitas na mão e o acesso à capa da revista de maior circulação do país, a quadrilha tinha alto poder de persuasão.
Desde que os filhos da Casa Grande perderam a chave do palácio do Planalto, há dez anos, os factóides desta quadrilha e seus cúmplices, transformados em eventos midiáticos com a ajuda dos distraídos, converteram a política brasileira num trem fantasma, um desfile de monstrengos moralistas, uma opereta burlesco-udenista onde brilharam Demóstenes Torres, Agripino Maia, Álvaro Dias e ACM Neto.
É bom lembrar que o governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, tinha como chefe de gabinete uma simpática senhora que, decerto entre entre outras atividades, avisava os bandidos quando e como fugir da polícia. Também é bom lembrar que Perillo era o vice presidente do Senado quando a imprensa e a oposição tentaram derrubar José Sarney. Foram impedidas por Lula. A imprensa - os cúmplices e os distraídos - e a oposição queriam colocar Perillo na presidência do Senado, quem sabe na Presidência da República.
Nos últimos dez anos, pelo menos, a quadrilha de Cachoeira, que inclui senadores, deputados, governadores, prefeitos, promotores, juízes e policiais, pautou a vida política do país, criando ou turbinando escândalos, transformando tapiocas em crises nacionais, inventando dossiês, dinheiros de Cuba e do Tamiflu, rebaixando o debate politico e espantando pessoas decentes da vida pública. Fizeram um mal terrível ao pais, com a cumplicidade criminosa de alguns jornalistas.
Segundo a decisão da justiça que mandou essa turma temporariemante para a cadeia, o braço midiático da quadrilha era responsável pela "divulgação de conteúdo capaz de favorecer os interesses do crime". Hoje, muitos se dizem chocados com o comportamento de Demóstenes. Resta saber quais os cúmplices e quais os distraídos.
Em qualquer das hipóteses, não parece fazer muito sentido pagar para ler ou ouvir o que dizem.
x


Mote: Demóstenes

Não lembrar é uma armadilha
que, ao futuro, bem não traz.
A capital é uma ilha.
Por todo lado, Goiás.


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Notas:

(1) Eu, por exemplo.

(2) Já me citei como exemplo? Adiante, então.

(3) Sem bons jornalistas não há democracia possível. Escute o comentário de Bob
Fernandes sobre as relações entre Demóstenes Torres e Gilmar Mendes e
descubra porquê.

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/bob-fernandes-as-supostas-relac...
de-demostenes-e-gilmar

Cúmplices e distraídos | Casa de Cinema de Porto Alegre

quinta-feira, 29 de março de 2012

BRASILEIRO PASSIVO? - O CASO PAULISTA

O professor Romualdo Pessoa postou uma frase do Millôr Fernandes em seu perfil do facebook, e achei interessante poder refletir sobre ela: 
Não precisa se preocupar pois não haverá epidemia de cólera. O nosso povo morre mesmo é de passividade
O colega Sérgio Loiola comentou:
Somos uma sociedade laica e conformada, é triste ter que admitir...
Eu não entendi bem o sentido de laico no comentário do Sérgio, mas quero discordar. A passividade e o conformismo são uma construção das elites, inclusive de esquerda. Em diversos momentos de nossa história o povo se rebelou, porém foi tratado com tamanha violência e com dispositivos apaziguadores e amenizadores que parece mesmo que somos assim, passivos.
Mas qual é o papel da historiografia e da intelectualidade na construção dessa perspectiva?
A figura do "bilontra" construída por José Murilo de Carvalho para explicar a participação popular no Rio de Janeiro no contexto da transição do Império para a República nos ajuda a refletir sobre essa construção de um povo passivo, ou mesmo da falta de um povo. O deboche, o cinismo e a indiferença seriam atitudes possíveis e subversivas ante o mundo das aparências da política oficial.
O documentário Lutas.doc de Danielo Augusto e Luiz Bolognese contribui ainda com a reflexão:


E ainda, seria necessário pensar no papel dos meios de comunicação na construção desta perspectiva, sobretudo porque no Brasil a mídia está nas mãos de algumas famílias.
Vejamos alguns casos específicos, como o tratamento dado por J. Pitomba no jornal Correio Paulistano de 02 de agosto de 1947 aos protestos contra o aumento das passagens de ônibus em São Paulo:
O povo é magnânimo e paciente, só perde a tramontana e se convulsiona nos momentos de profundas e generalizadas inquietações, quando a consciência coletiva exige uma alteração decisiva de valores sociais. As perturbações da ordem, como as de ontem são obras da multidão que não só não tem uma consciência homogênea, como age no impulso de paixões exacerbadas e sem finalidade doutrinária ... alguma coisa de mais grave e fermentadíssima deve haver no íntimo das massas. Uma simples elevação, nas passagens de bondes, não basta para explicar o desvairamento das atitudes agressivas, violentas e destruidoras de ontem. Compete ao governo tomar nota de todo o acontecido e chegar à conclusão de que medidas muito oportunas e prudentes devem ser tomadas para que o contágio da inquietação aguda, não tome um caráter generalizado, transformando-se numa comoção específica que costuma ter o nome de movimento revolucionário. Fonte: http://www.redalyc.org/redalyc/html/263/26305003/26305003_5.html
Agora comparemos com os acontecimentos de hoje (29/03/2012) em São Paulo e a maneira com que foi noticiada a revolta popular no Jornal Hoje:
Passageiros de trens enfrentam a polícia e depredam estação em SP

Os passageiros ficaram revoltados com uma pane no fornecimento de energia elétrica dos trens. Eles queimaram a bilheteria, quebraram catracas e destruíram parte da estação de Francisco Morato.
http://g1.globo.com/jornal-hoje/videos/t/edicoes/v/jornal-hoje-2903/1880222/

 Creio que não se conseguirá ver o vídeo pois está disponível apenas para assinantes, mas no Youtube temos o plantão:
E o que você acha, somos mesmo um povo passivo?
E quando eu escrevia o post a amiga Márcia Panther me indicou esse vídeo aqui para ajudar na reflexão:

segunda-feira, 19 de março de 2012

Estado laico e religião: confusão e maracutaias na educação

Espero que o STF oriente a relação entre religião e educação no Brasil. Eu sou crítico do ensino religioso nas escolas públicas, pois acredito que a fé é de âmbito privado e pessoal, portanto, dever exclusivo das famílias. Famílias que se quiserem um ensino confessional e religioso podem matricular seus filhos em escolas que possuem este perfil. 
As notícias abaixo apresentam alguns fatos ocorridos que ajudam a refletir e avançar, assim espero, na reafirmação do estado laico e no direito à diversidade religiosa, muitas vezes desrespeitados pelas visões estreitas e colonizadoras:
Folha de São Paulo, 18/03/2012 - São Paulo SP
União ameaça fechar faculdade que repassa verba federal a igrejas
DE SÃO PAULO - O Ministério da Educação informou que as denúncias contra o grupo educacional Uniesp poderão levar ao fechamento das faculdades. Já a Polícia Federal deve apurar o caso civil e criminalmente. Conforme a Folha revelou, a Uniesp fecha convênios com entidades religiosas, que indicam novos estudantes. Em troca, o grupo repassa 10% do que receber do Fies (financiamento estudantil federal) por indicado. O mesmo vale para bolsista do governo de SP. A Folha constatou ainda, com atendentes das faculdades, que a mensalidade para aluno do Fies é mais alta. A Uniesp nega os valores diferentes. Sobre repasses, diz que busca encontrar aluno pobre para atendimento.
Terra Educação, 19/03/2012
Organizações educacionais querem limitar ensino religioso nas escolas
Organizações educacionais e ligadas a direitos humanos querem limitar o ensino religioso nas escolas públicas do País. O grupo quer proibir políticas como a do governo de São Paulo, que prevê o ensino religioso do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental. O Ministério Público Federal viu como inconstitucional o decreto presidencial que confirma o acordo entre Brasil e Igreja Católica e a discussão foi parar no Supremo Tribunal Federal. As informações são do jornal Folha de S. Paulo. Para o MP, o texto que cita a presença do ensino "católico e de outras confissões" abre espaço para que haja catequese nas escolas, ao usar o temo "confissões". O órgão defende que o ensino deve se restringir a exposição de práticas e da história das religiões. Os gurpos envolvidos, Ação Educativa, Relatoria Nacional para o Direito Humano à Educação, Conectas Direitos Humanos, Ecos e Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher, dizem que os Estados infringem a Constituição. No caso de São Paulo, um dos princípios feridos, é o de que o ensino religioso deve ser optativo. Se o conteúdo é espalhado, o aluno não tem a opção de não assisti-lo.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

EDUCAÇÃO CAÇA-NÍQUEL


http://www.mst.org.br/jornal/308/realidadebrasileira
O ex-ministro Paulo Renato e ex-secretário de educação de São Paulo fez o dever de casa para a expansão dos mercenários da educação no Brasil.
Educação na perspectiva do finado é um grande balcão de negócios extremamente lucrativo. 
E a realidade atual em São Paulo confirma o caminho escolhido pelos senhores da privataria:
Folha de São Paulo, 06/02/2012 - São Paulo SP
Grandes grupos passaram a orientar as tendências no setor educacional

JOÃO DOS REIS SILVA JÚNIOR ESPECIAL PARA A FOLHA Universidades privadas de SP estão com problemas para o início deste ano letivo. Há duas décadas o setor privado evolui e se consolida como opção deliberada de política de Estado. Neste período, a proporção de oferta de vagas oscilou em torno de 75% para o setor privado e 25% para o público. É necessário diferenciar os grupos no setor privado. Pequenas instituições foram fundidas em empresas educacionais maiores e, em seguida, foram vendidas para grupos financeiros internacionais ou nacionais. Há também os grandes grupos de capital nacional e as confessionais. Paralelamente a isso, e por isso, o Estado produziu programas como o Prouni [bolsas de estudo em escola privada] e o Fies [financiamento estudantil] para produzir oferta e atender a demanda. Disso resulta a forte tendência da internacionalização da educação superior privada pela via da abertura de capitais na bolsa de valores.

Grupos que trilham esse itinerário passam a orientar as tendências do setor. Com uma gestão ditada pela rentabilidade do capital financeiro internacional, os professores sofrem as consequências neste grupo. Porém, nos demais a situação é pior, pois não há entrada de capital internacional. Esta é a situação das   quatro universidades em pauta. Ressalte-se também que pesquisas mostram que alunos estão trabalhando para estudar, e não estudando para conseguir e manter colocação no mercado de trabalho. Outrora a educação superior era questão de Estado. Hoje, se encontra em fórum normatizador de acordos e contratos de comércio internacional. O Estado não tem soberania no setor. A educação se tornou mercadoria e fetiche. Os atores do setor devem reivindicar e mostrar isso à sociedade. Mas, em última instância encontra-se o Estado. É bom lembrar-se das palavras bíblicas "quem pariu Matheus que o embale".

Aliás é bom que se diga que o modelo vislumbrado pela turma da privataria é o chileno onde o estado se desobrigou da educação e a população sofre com o endividamento, confira entrevista da líder estudantil Camila Vallejo aqui.
As regras do modelo de educação para os países latino-americanos foram gestados pelo BIRD e pela OCDE que orientaram os ajustes estruturais neoliberais. Uma análise introdutória de Roberto Leher sobre as reformas educacionais neoliberais orientadas pelo Bird pode ser lida aqui
Para uma avaliação mais geral, ver a análise realizada por Paulo Nogueira Batista que se debruçou sobre o Consenso de Washington para desvendar a visão neoliberal sobre os problemas da América Latina, aqui.
E no caso de Goiás, voltando o olhar para a educação básica, o que esperar de um secretário de educação que teve parte de sua campanha para deputado financiada por grupos ligados à educação privada?
Lista de doadores tem escolas particulares: O Popular consultou, junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a prestação de contas do deputado Thiago Peixoto - ele foi eleito deputado federal pelo PMDB, mas deixou o mandato para assumir a Secretaria Estadual da Educação. Dos 124 doadores da campanha do parlamentar, três são escolas e pelo menos um é proprietário de escola particular em Goiânia. Juntos, doaram apenas R$ 15 mil do total de R$ 2.131.713,17 que Thiago Peixoto declarou à Justiça Eleitoral.Figuram como doadores o Colégio Visão, com R$ 5 mil, e MDO & Escolas Associadas Ltda. e R&M Sistema Educacional, com R$ 2,5 mil cada, além do presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Estado de Goiás (Sinepe), Krishnaaor Ávila, com R$ 5 mil. Grande parte de suas doações foram feitas pelo próprio Thiago Peixoto: são sete, que somam R$ 488 mil. (Por Carla Borges. Fonte: http://www.mp.go.gov.br/portalweb/42/noticia/12f11c89483174b45403ff0e0c21f585.html)

O PAÍS DO FUTURO LONGÍNQUO...


E o que o futuro nos reserva? Compare os orçamentos da união de 2010 e 2012 e tire suas conclusões:

http://ibit-inteligencia.blogspot.com/
http://opiniaodivergente.com/?p=617

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

'O MUNDO É DIFERENTE DA PONTE PRA CÁ'

Compartilho um texto de um sujeito especial, Jefferson Acevedo.

Cruzei com Jefferson Acevedo no Colégio Estadual Villa Lobos, no Garavelo, nem Goiânia, nem Aparecida, onde ele era estudante do terceiro ano de ensino médio em 2006 e eu professor de História recém concursado. No ano anterior quando falei com os alunos do terceiro sobre curso superior, riram de mim e entre outras coisas me disseram: "pobre não tem condição de pagar faculdade". Pude constatar uma distância enorme entre as expectativas dos alunos e a universidade, algo parecido com meu sentimento quando criança quando vinha passar férias na casa de minha avó que morava no bairro Novo Horizonte e o coletivo que pegávamos era a linha Garavelo que em minha cabeça de criança era imensamente longe, já que depois do Novo Horizonte havia chácaras, fazendas e cerrado e nem se via o Garavelo.
Jefferson conseguiu pular o fosso e hoje está concluindo o curso de História na UEG-Anápolis, atua no movimento estudantil. Ele e seus parceiros criaram um cursinho pré-vestibular gratuito em Anápolis e ele me disse que os alunos chegam sem nenhuma ideia do que é a universidade: "muitos querem fazer só o Enem, porque acham que a faculdade privada é melhor".


Pelo direito de AMAR e DECIDIR!
No dia doze de janeiro em Anápolis/Goiás. Fiquei estarrecido, bestificado, perplexo, enfurecido, assustado com a marcha “contra a ditadura homossexual e o aborto”, que ocorreu na Praça Bom Jesus no centro da cidade. Primeiro vamos discutir o que seria ditadura, podemos afirmar que seja uma imposição de idéias, modelos de vida, hábitos e violência sobre outros. Já aqui contradizendo o termo “ditadura homossexual”, uma vez que desde a infância nos adaptamos ao heteronormatismo, aprendemos a sermos homofóbicos, sexista, racista e cristão tendo dificuldade de aceitar e respeitar o diferente, nesse sentido a ditadura é imposta por quem exerce o poder político ideológico, o que não é o caso dos homossexuais, nem das mulheres que fazem aborto improvisado devido a criminalização.
Mesmo convivendo com Gays a longa data, continua-se sendo hétero, a orientação sexual não pode ser determinada por amar seus amigos gays. As pessoas estão acima da orientação sexual, sofrem, amam, odeiam, enfrentam a contradição, nascem e morrem, tem filhos. E os filhos de homossexuais nem sempre são gays, como filh@s que só tem a mãe ou o pai não se tornam homossexuais necessariamente. Sendo o trato e o cuidado desses pais GAYS, o qual permite à vários meninas e meninos abandonados pela família tradicional em orfanatos, reformatórios e nas ruas, o direito à uma família onde serão acolhidos e amados como também será proporcionando compreensão, diferente da igreja que não acolhe os milhares de menin@s que habitam as ruas de Goiás, a não ser que aceite seus dogmas e assuma seus pecados diante de um mundo contraditório e nefasto, o qual não foi criado por eles!
Para o homem é fácil ser contra o aborto, a gestação não está nele, e no máximo irá arca com aproximadamente 30% de sua renda, caso a justiça assim estabeleça nos ramos legais. Como homem poderia afirmar: o corpo não é meu, o sofrimento não é meu, a dor não é minha e muito menos a responsabilidade, tem um discurso das feministas que muito participa desse debate “se o papa fosse mulher o aborto seria liberado”. Assisti atônito, vários coroinhas, homens diga-se de passagem, contra o aborto e a homossexualidade e posso afirmar depois de 1000 anos de santidade, isso mesmo mil anos de idade média os homossexuais não sumiram da face da terra e as mulheres exigem seus direitos, no mundo antigo existiam homens que mantinha relações sexuais com outros homens(não sendo homossexuais, porque não quero cometer aqui anacronismo), e me pergunto todos os dias, Deus nos fez para sentir prazer, por que nosso corpo nos apresenta enquanto zona erógena, me permitindo diversas formas de satisfação sexual? E o direito de amar está acima da religião uma vez que sou guiado pelo mandamento supremo, amais uns aos outros!
Paulo Freire em uma de suas entrevistas disse: Como ocorre a marcha dos movimentos agrários deveria também ter a marcha dos que não podem amar, e não podem ser, os homossexuais e a mulheres que não tem o domínio de seu corpo, como também toda a sociedade deve engrossar essa marcha. O direito de AMAR! Pergunto-me, porque algo tão antinatural (segundo a Igreja) existe desde os primórdios da humanidade? É simplesmente o direito de AMAR.
As Católicas pelo Direito de Decidir, grupo organizado dentro da igreja católica, demonstram que é possível ter fé, amar a Deus sobre todas as coisas e ter opinião critica nessa sociedade, sendo a favor do aborto uma vez que o corpo pertence às mulheres e é delas o direito de decidir quando devem ter ou não um filho. O corpo da mulher não pertence ao homem para decidir por ela, da mesma forma o homossexual não pertence ao heterossexual para que ele possa determinar as formas e posturas a serem seguidas.
Parafraseando orações para Bobby: há varias crianças em suas congregações, desconhecidas por vós, ouvindo vocês, e isso depressa silenciara suas preces, suas preces a Deus: por compreensão, por aceitação e pelo amor de vocês, mas o seu ódio e medo, pela palavra gay ira silenciar esses preces. Por isso... Antes de ecoarem Amém... Pensem! Uma criança está ouvindo!
E diante de tudo isso eu ainda tenho um sonho, no qual o meu país torne-se politizado, onde as pessoas saibam votar, que a democracia direta reine e todos os preconceitos sejam abolidos. Que as divergências religiosas não estejam acima do principal mandamento “amai uns aos outros como a si mesmo”, que o ser humano seja a instância máxima de liberdade. Tenho um sonho de mobilização e participação na construção do poder popular como antes nunca deslumbrado por outra sociedade, que a comida seja para alimentar e a casa para morar, o transporte para o bem viver e a educação para emancipar!

Jefferson Acevedo
D.A. UnUCSEH/UEG
Educador Social/Recid-GO
Militante do Partido dos Trabalhadores
Fonte: http://pagina13.org.br/archives/12397


Abaixo uma reportagem que possibilita uma visão mais abrangente sobre o fosso existente entre os alunos de escola pública e a universidade pública, precisamos de pontes!
http://www.humorpolitico.com.br/index.php/2011/09/14/escola-publica-privad/

Cotas ainda têm baixa adesão de estudantes da escola pública


Número de inscritos ao vestibular da UFG oriundos da rede pública aumenta a cada ano, mas está longe do ideal. para pró-reitora, alunos desconhecem as propostas de inclusão

Patrícia Drummond

A cada vestibular, desde que foi aprovado, em agosto de 2008, o Programa UFG Inclui, da Universidade Federal de Goiás (UFG) - que estabeleceu o sistema de cotas na instituição, a partir do processo seletivo 2009-1 - vem aumentando o número de candidatos inscritos. Mas ainda está longe do ideal, segundo avalia a pró-reitora de Graduação da universidade, Sandramara Matias Chaves. Segundo ela, ainda é minoria o número de estudantes oriundos da escola pública - aos quais as cotas são direcionadas - que ao menos se inscrevem para tentar o vestibular da UFG.
"As ações afirmativas propostas pelo UFG Inclui têm o objetivo de estimular a participação de estudantes de escolas públicas no nosso processo seletivo. Entretanto, consideramos que, em relação ao número de concluintes do ensino médio, na rede pública, o porcentual daqueles que se inscrevem no vestibular da universidade ainda é pequeno", destaca Sandramara.
A pró-reitora cita, por exemplo, que dos cerca de 54 mil concluintes do ensino médio em escolas públicas, em 2009, pouco mais de 8 mil, apenas, se inscreveram para o vestibular 2009-1 da UFG. "Esses números fizeram com que a UFG decidisse intensificar a divulgação de suas propostas de inclusão, o que fizemos neste ano", acrescenta, lembrando os projetos UFG vai à Escola, Conhecendo a UFG e Espaço das Profissões, em que o Programa UFG Inclui é apresentado a alunos e professores da rede pública.
Sandramara Chaves diz acreditar que boa parte dos estudantes da rede pública de ensino, em Goiás ainda desconheça as propostas de inclusão da UFG. Talvez por isso, pondera, eles não se sintam estimulados a tentar uma vaga na universidade. "Por que esses alunos optam pelo vestibular das particulares e não vão direto procurar o vestibular da instituição pública? Nossa intenção é proporcionar condições para que essa realidade se transforme", argumenta a pró-reitora de Graduação.
No vestibular 2009-1, de um total de 31.493 inscritos, 7.963 optaram pelo sistema de cotas oferecido pela UFG - são 20% das vagas reservadas a estudantes de escola pública e 20% a negros de escola pública. Um ano depois, o vestibular 2010-1 teve 30.579 candidatos, dos quais 8.509 se inscreveram pelo UFG Inclui. Para 2011-1 - cujas provas da primeira fase serão realizadas no próximo dia 21 -, 9.446 candidatos farão o exame por meio das cotas no maior vestibular da instituição, com 34.739 inscritos.
Aluna do 3º ano do ensino médio no Colégio Estadual Senador Teotônio Vilela, no Conjunto Vera Cruz 1, Rosyanamar Régis Pereira, de 17 anos, não se inscreveu para fazer o vestibular da UFG. Ela fez, sim, há uma semana, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para tentar uma bolsa pelo Programa Universidade Para Todos (ProUni), do governo federal, caso consiga entrar em uma faculdade particular.
"Não me sinto preparada psicologicamente nem em termos de conteúdo para enfrentar a concorrência na Federal, mesmo sabendo que existe esse sistema de cotas", alega a estudante. "Pelo menos por enquanto me sinto insegura. Talvez eu tente a UFG no meio do ano; agora, vou tentar, mesmo, uma particular", completa, apontando a frequente substituição de professores, o atraso no conteúdo das disciplinas e a "falta de interesse" geral com a escola pública como os motivos de sua insegurança.
Rosyanamar conta que estudou bastante para as provas do Enem 2010, realizadas no último dia 6, mas, com as recentes falhas no exame - somadas às ocorridas no ano passado, com o Enem 2009 -, afirma estar "meio desanimada". "Embora tenha me saído até bem, com tudo o que aconteceu estou em dúvida; não tenho mais certeza se estarei, realmente, em uma faculdade no ano que vem", lamenta a secundarista, que sonha em fazer Psicologia, Terapia Ocupacional ou Musicoterapia.
Para os governantes, professores, direção e colegas da escola pública, ela deixa um recado: "Existem muitos problemas de infraestrutura, fazem greve por melhores salários e acho que tudo isso é importante. Mas falta buscar um novo significado para o ensino público, para que nós, alunos, possamos acreditar no nosso potencial."

Desigualdade se reflete no ensino superior
"Não tenho a mínima chance no vestibular da UFG; por isso, nem fiz inscrição", declara Morgana de Carvalho Souza, de 17 anos, aluna de escola pública que também tem no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) a esperança de ingressar no curso superior em uma faculdade particular, por meio de bolsa. Desestimulada por causa dos últimos acontecimentos envolvendo o exame, ela já pensa em adiar para 2012 o projeto de se tornar universitária. "Até lá, dá tempo de fazer cursinho", alega.
Para o professor João Ferreira, da Faculdade de Educação da UFG, que mantém estudos na área de políticas públicas educacionais, nem o sistema de cotas nem o Enem ainda são capazes de promover uma inclusão mais ampla no ensino superior, "na dimensão da diferença social" existente, historicamente, no Brasil. "O sistema de acesso à universidade é muito elitizado socialmente. A desigualdade é de origem econômica, social e cultural e se reflete no ensino superior", diz ele.
Na opinião do especialista, uma real inclusão do estudante oriundo da escola pública à universidade pública só ocorreria se o patamar da reserva de vagas fosse estabelecido na mesma proporção do que ocorre no Ensino Médio: "Hoje, 85% dos jovens brasileiros de 15 a 17 anos estão matriculados na rede pública e só 15% na rede privada. O ideal seria manter, nos sistemas de cotas, essa mesma proporção, o que acabaria gerando uma grande e polêmica discussão", reconhece.
José Ferreira acredita que, se ainda é pequena a procura dos alunos da rede pública pelos programas de inclusão universidades públicas, é porque os porcentuais destinados a essas vagas não estão interferindo tanto na realidade daqueles estudantes. "Tentar uma bolsa em uma faculdade particular acaba sendo uma chance mais real", argumenta, lembrando que a questão passa, também, pela construção de um ensino público - em nível fundamental e médio - com padrão de qualidade, além da expansão - com maior oferta de vagas - do ensino público superior. 
Quase 50% dos inscritos optaram pelo Enem
Dos mais de 34 mil candidatos que farão o vestibular 2011-1 da Universidade Federal, quase 50% optaram, no ato da inscrição, pelo aproveitamento da nota do Enem 2010 para a composição da média final no processo seletivo. São cerca de 18,7 mil inscritos interessados na prova de Conhecimentos Gerais do Ministério da Educação como tentativa de somar pontos no vestibular da UFG.
A esses candidatos, a pró-reitora de Graduação Sandramara Matias Chaves informa que não haverá prejuízo algum, em função do problema com os cartões de respostas e parte dos cadernos de perguntas. De acordo com ela, como a nota do Enem só é computada na média final, caso ocorram imprevistos "a nota do Enem simplesmente não será utilizada".
Sandramara explica que, conforme o edital da UFG, a composição de nota, no vestibular, para classificação dos candidatos, terá por base a soma dos pontos obtidos na primeira etapa, mais a nota do Enem (adequada ao mesmo padrão de pontos da primeira etapa), na escala de 0 a 90, exceto a prova de Redação, mais os pontos obtidos na segunda etapa. Mesmo assim, a nota do Enem só será utilizada caso seja maior do que a pontuação obtida nas provas da primeira etapa; será aproveitado, portanto, o melhor desempenho do candidato.
Apesar das falhas na aplicação do Enem, por duas vezes consecutivas, ela defende a iniciativa do governo federal. "Trata-se de um processo que está sendo construído gradativamente, com base em uma metodologia que apresenta amplo respaldo na literatura internacional", pondera, referindo à Teoria de Resposta ao Item (TRI). A Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil divulgou nota oficial a respeito, declarando que a TRI garante a isonomia das provas do Enem, ainda que aplicadas em períodos diferentes. A TRI se baseia em modelos matemáticos que permitem a elaboração de provas com o mesmo grau de dificuldade.
Fonte: http://nucleoikatu.blogspot.com/2010/10/educacao-essa-palavra_24.html

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

EDUCAÇÃO E CRIATIVIDADE

http://proseandocomtics.blogspot.com/2010/10/tecnologia-no-contexto-educacional.html
Talvez nunca a educação escolar esteve tanto na boca das pessoas como em nosso momento atual. 
No Brasil em todas as escalas sociais, nas mais diversas regiões do país, as pessoas concordam que a educação escolar é extremamente importante para transformar ou manter certas condições e modos de vida. O camponês sem terra almeja que seus filhos acessem a educação escolar para não viver a mesma vida do que seu pai. A mãe tenta convencer a filha a se dedicar nos estudos para não passar pela mesma situação de sua mãe, dependente do marido, ou excluída de um emprego mais rentável - ou mesmo do mercado de trabalho - por falta de diplomas ou escolarização. A família de classe média quer que seu filho vá mais longe do que seus pais e tenha um futuro promissor em alguma profissão que o faça prosperar ainda mais. Os ricos dão suporte para seus filhos desenvolverem suas habilidades, mas estão preocupadas com a necessidade de manutenção dos bens da família e se possível a sua expansão, já que no sistema que vivemos importa lucrar, ainda mais agora que as viagens espaciais são possíveis é preciso ter mais capital para financiar tais excentricidades. Sem falar em como os professores e sindicatos, os políticos e as ongs tratam da educação escolar.
Não vamos entrar aqui nos aspectos históricos, sociológicos, psicológicos, econômicos ou políticos da questão, mas simplesmente refletir sobre o que poderá nos legar a educação da forma como hoje estão organizados os sistemas educacionais, sobretudo o sistema público. O rapper Mano Brown do grupo Racionais MCs em uma entrevista dada a revista RapBrasil a alguns anos atrás, ao ser perguntado sobre sua aposta e esperança na educação apresentada em algumas de suas músicas, afirmou que havia mudado de opinião e que não via solução. Para Brown somente a destruição da escola para recomeçar do zero poderia transformar o sistema educacional em algo útil para as expectativas da comunidade negra e pobre do país.
Em um primeiro momento achei absurda aquela ideia, mas os meus alunos corroboravam e reafirmavam essa ideia no dia-a-dia da escola - os sinais eram claros, escreviam nas paredes afim de deixar suas marcas em um ambiente cinza e sem vida; desafiavam coordenadores para continuarem usando bonés ou camisetas que não fossem do uniforme; dormiam em sala de aula demonstrando sua indiferença às aulas enfadonhas e sem sentido para suas vidas; reclamavam da repetição dos mesmos conteúdos, da necessidade de copiar em seus cadernos; do lanche sem variedade e de qualidade duvidosa; clamavam por recreios mais longos, por mais aulas na sala de informática, para que tivéssemos mais filmes, mais música, para que pudessem ficar na quadra ou na recreação por mais tempo - demonstravam que Brown estava correto em sua avaliação do sistema educacional brasileiro: a escola não faz sentido para as crianças e jovens, sobretudo quando se é pobre e negro.
Ken Robinson, um inglês especialista em educação e criatividade, por outro caminho confirma a ideia de Brown e de meus alunos, ele afirma que os sistemas educacionais com seus modelos baseados no princípio industrial, na linearidade e na padronização - a educação fast food - não alimenta nossas energias e nossas paixões. Isso porque esse sistema esta voltado para a capacidade acadêmica, hierarquizada, e principalmente descorporificada, pois é um sistema que visa os alunos como meras cabeças, pura cognição.    
Robinson chama a atenção para um problema sério: as escolas estão matando a criatividade e de outro lado propõe uma revolução no processo de ensino e aprendizagem. Ele relembra que a inteligência é diversa, dinâmica e distinta e que os sistemas educacionais dentro do modelo industrial não conseguem dar conta de uma educação na totalidade, pois privilegiam certas áreas do conhecimento em detrimento de outras. 
As reformas educacionais que estão sendo propostas ou gestadas hoje no Brasil confirmam essa ideia ao diminuírem cada vez mais as cargas horárias das áreas de humanas, de artes e educação física - mas mesmo dentro dessas disciplinas existem certas hierarquizações valoriza-se certos aspectos - no meu tempo por exemplo os meninos monopolizavam as aulas de educação física com os jogos coletivos com bola, mas até as meninas, que na maioria das vezes ficavam de fora dos times, preferiam essas aulas do que os polichinelos, e os demais exercícios da ginástica militar que nossos mestres nos ensinavam.
Ken Robinson também propõe uma reforma, uma transformação, enfim, uma revolução na educação - inclusive o atual secretário de educação de Goiás também almeja e propagandeia uma revolução no sistema público, porém, ao que me parece, no sentido de reafirmar o modelo fast food. A revolução de Robinson está baseada em uma perspectiva do sucesso e prosperidade humanas, um princípio também questionável, portanto, não desenvolverei esta questão aqui. Neste sentido, ele afirma que é preciso passar do modelo industrial para um modelo baseado no princípio da agricultura, pois a prosperidade humana não seria um processo mecânico, mas sim orgânico. E uma vez que não se pode prever o processo de desenvolvimento humano, o importante é criar as condições para o pleno desenvolvimento da criatividade, das habilidades e da inteligência humanas. 
http://gardenia-te100h.blogspot.com/2011/05/charge-momento-de-discontracao-e.html
Assistam as conferências realizadas por Ken Robinson em que ele discute essas idéias e uma animação interessante baseada em uma de suas conferências onde apresenta a necessidade mudar o paradigma que fundamenta o sistema educacional, a partir do pensamento divergente. Creio ser interessante para refletirmos sobre a escola, seus sujeitos e suas relações com o mundo atual, sobretudo no âmbito do desenvolvimento tecnológico.







segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Mapa musical da Colômbia pela SoundWay


Copiei o mapa do Bate Estaca de Camilo Rocha, ele foi produzido pela SoundWay, um selo musical que tem a missão de compilar, resgatar e difundir músicas que segundo o proprietário Miles Cleret estariam na berlinda para desaparecerem. Segundo Camilo Rocha é um selo de 'globalismo vintage'. Cleret seria uma espécie de Mario de Andrade do século XXI, mas em proporções globais, e reeditando as músicas em vinil e cd confiram o catálogo.
E por falar em Mário de Andrade, o Sesc-SP disponibilizou o acervo musical recolhido durante a Missão de Pesquisas Folclóricas realizada em 1938 quando Mário era chefe do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo. Clique na imagem abaixo para conferir: