domingo, 18 de setembro de 2011

ESCLARECENDO O DESPOTISMO NA UEG - considerações a partir de algumas pistas

Despotismo que se quer esclarecido? Sabemos que não há desenvolvimento acadêmico, produção de conhecimento de alto padrão quando interesses partidários e eleitoreiros obstruem a autonomia universitária. 
Antes de continuar é interessante entendermos como surge um despota esclarecido em Goiás. Matéria de Rubens Santos no Estado de São Paulo de 20 de outubro de 2007 me parece ser um vestígio importante:
O curso especial de Direito que a Faculdade Alves Faria (AlFa) abriu neste ano para atender uma turma especial - formada pelo senador Marconi Perillo (PSDB) e sua mulher, Valéria - pode deixar de existir. (Matéria completa: http://va.mu/FdOF)
Outro vestígio é a outorga de grau concedida pela reitora da Universidade Federal de Goiás ao então Governador: 
Reitora da UFG, Milca Severino, concede título de Doutor Honoris Causa a Marconi Perillo em 14/12/2005. Fonte: http://va.mu/FdOH Em 2007 Milca  foi empossada como Secretária da Educação do Estado de Goiás.
Voltando à UEG, temos convivido, desde sua criação em 1999, com os desmandos de certos grupos que se aferram para manter sob suas mãos os parcos recursos destinados à instituição.  Como bem demonstrou o professor Ronaldo Angelini:
Para poder candidatar-se novamente em 2004, o sr. Izecias e o Conselho Universitário da UEG (órgão máximo da Instituição) alteraram uma vez mais o Regimento (3 meses antes da eleição, na reunião de 24/05/2004) e então ele foi o candidato vitorioso tendo como vice o atual reitor, Luiz Antonio Arantes.

Acontece que as alterações no Regimento ou Estatuto da UEG devem necessariamente ser homologadas pelo governador para ter validade jurídica, como prevê o artigo 213 do próprio Regimento e isto simplesmente não foi feito. Assim, a eleição do sr. Izecias e seu vice em 2004 se não foi totalmente ilegal, foi, no mínimo, à margem da própria legislação da Universidade. Fonte:http://va.mu/FdOK
A UEG serviu ainda para empregar correligionários, cooptar novos militantes. Devido a sua capilaridade, também foi usada como trampolim político, e a candidatura do reitor José Izecias à Deputado Federal em 2006 é a evidência. Trecho de matéria do Jornal Estado de Goiás de setembro de 2006, apresentava uma acusação de crime eleitoral cometida por Izecias e envolvendo a diretora da Unidade Universitária de Formosa:
No final do mês de agosto, o candidato a deputado federal José Izecias pelo PSDB foi flagrado em Formosa – GO fazendo propaganda eleitoral irregular. O fato foi descoberto pelo promotor de justiça Heráclito D’Abadia Coelho que se encontrava em atividade de fiscalização das eleições. Juntamente com o Juiz Eleitoral da cidade foram até o local e paralisaram o evento que estava designado como apenas uma confraternização de professores.

Foi no dia 21 de agosto que a diretora da Universidade Estadual de Goiás (UEG), unidade Formosa, Ivani Marisa Kaiser, assinou um contrato de locação com o Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Querência Formosa – entidade social – para realizar um evento designado como reunião com reitores de Goiânia – GO. O valor pago pelo aluguel em cheque da própria diretora, R$ 100, seria para cobrir alguns custos do local. Leia a matéria completa: http://va.mu/FdON
O mesmo despotismo que se quer esclarecido, tensiona manter a ignorância e, sob o véu do salvacionismo e da meritocracia impõe com "mão de ferro" à comunidade universitária uma universidade que serve aos interesses partidários e de poder do grupo do tempo novo e não ao real desenvolvimento da formação de professor e das ciências no estado de Goiás. 
Um dos primeiros atos do governo estadual em 2011 em relação à UEG foi empossar uma vice-reitora à revelia da comunidade universitária, passando por cima do Conselho Universitário. Até aí nada de mais se pensarmos na fajutice da composição do CSU, já apontada, a algum tempo, pelo professor Marcelo Sena e o Fórum de Defesa da UEG: http://va.mu/FdNe
Assim, desde fevereiro temos uma vice-reitora biônica, uma interventora, como nos tempos de Vargas ou mais recentemente durante a Ditadura Militar.
Através do Fórum, estudantes, professores e funcionários questionaram a intervenção, inclusive com um piquete em frente a reitoria no dia 11 de maio: http://va.mu/FdNd
A justificativa e o escamoteamento da questão foi defendida pelo governo através do Jornal Opção, na coluna Bastidores:
UEG pode ser recuperada?

Professores, alunos e funcionários da Universidade Estadual de Goiás são sérios. Mas a gestão do reitor Luiz Arantes, conhecido como “o Alcides Rodrigues da UEG”, é uma desastre do ponto de vista administrativo e educacional. A UEG parou no tempo e está perdendo professores gabaritados. O triunvirato liderado pela doutora Eliana França tem o objetivo de organizar a universidade.
(...)
Eliana França, como pró-reitora, não é interventora, como espalham os aliados de Luiz Arantes. Experimentada educadora, ex-secretária da Educação do Estado, professora da Universidade Federal de Goiás, Eliana França chega para tentar melhorar a UEG, para torná-la mais qualificada e, portanto, respeitada. A UEG não pode e não deve ser vista como um “supletivo melhorado”. A UEG é a única universidade brasileira cujo reitor não tem nem mestrado e nem notório saber em qualquer área do conhecimento. Os professores não conhecem um texto científico do reitor. O objetivo, a partir de agora, é torná-la mais meritocrática do que política (verdadeiro cabidão de empregos para apaniguados).

No governo anterior, Luiz Arantes gostava de dizer que viajava de avião com Alcides Rodrigues e que era da cozinha do secretário da Fazenda, Jorcelino Braga. Ainda assim, não pedia aumento de verbas para a universidade. Aceitava todos os cortes calado, possivelmente até aplaudindo.

Apesar das críticas, é preciso frisar que Luiz Arantes é íntegro, sério. Mas não é gestor nem educador. É o homem errado no lugar errado. Fonte: http://va.mu/FdNc
Seria o triunvirato um cabide de emprego? Algumas pistas podem ajudar a responder esta questão: 
Eliana França foi nomeada pelo governador para assumir a presidência da FAPEG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás), mas não conseguiu assumir já que o estatuto da fundação desabona o desmando, pois para presidir o principal órgão de fomento à pesquisa do estado é necessário que seja doutor, porém Eliana Maria França Carneiro não possui nem o currículo Lattes cadastrado: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/busca.do, mas sabemos que doou R$ 100,00 para a campanha de Sandes Júnior do PP para prefeito de Goiânia. Outros dados são:
Graduada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, é Professora aposentada da Universidade Federal de Goiás, onde foi Diretora do Departamento de Atividades Acadêmicas e Pró-Reitora de Graduação. Foi Secretária de Estado de Educação de Goiás nos dois Governos de Marconi Perillo. Fonte: http://va.mu/FdN2
Como na UEG o regimento foi manipulado para garantir a eleição de um reitor não concursado e sem capacitação, a intervenção pôde ser efetivada, segue trecho de matéria do jornal Tribuna do Planalto que confirma minha suposição:
A Universidade Estadual de Goiás esteve também no centro de uma contenda envolvendo o governo e representantes de alunos e professores. Ao indicar o nome de Eliana França, que não conseguiu assumir a presidência da Fapeg (Fundo de Amparo à Pesquisa de Goiás), o governador foi alvo de críticas de que teria feito uma intervenção na Universidade. Fonte: http://va.mu/FdNp
Confira ainda o anúncio das nomeações feitas por Marconi Perillo para compor sua equipe de governo: http://www.goias.gov.br/index.php?idMateria=93610
Outro membro do triunvirato é Gerson Santana Fallacci, filiado ao PHS, partido que compôs a coligação Goiás Quer Mais. Ex-vereador, foi presidente da Câmara em Anápolis, com ampla experiência acadêmica e know how administrativo à frente de sua loja de roupas Fallaci Jeans & Cia assume a Pró-Reitoria de Planejamento, Gestão e Finanças, e de pronto afirmou: haverá mudanças http://va.mu/FdNz. Enfim, meritocracia ou acomodação de aliados políticos, também conhecido como cabide de empregos? Aqui temos algumas dicas: http://va.mu/FdN0
Eliana França presidiu desde março uma comissão de reestruturação que segundo o Secretário de Ciência e Tecnologia Mauro Faiad tinha o seguinte objetivo:
Essa comissão, hoje, está focada em faze o diagnóstico da sua real situação. Realizamos uma série de audiências públicas, debates com reitores de outras universidades, e estamos elaborando um estudo aprofundado. Logo, de posse do relatório, pois não basta um diagnóstico, conceberemos uma série de medidas corretivas, com o objetivo de colocar a UEG de novo no eixo que lhe proporcionará desempenhar um papel de protagonista no crescimento econômico-social de nosso estado na próxima década. Fonte: http://va.mu/FdN5
Mas o quê Faiad realmente quis dizer com 'colocar a UEG de novo no eixo'? A resposta veio com a apresentação do relatório feito pela comissão e foi publicada na coluna Giro do jornal O Popular no dia 17/09/2011: 
A consolidação da UEG, o desenvolvimento da autonomia necessária para se chegar à excelência acadêmica, mais uma vez fica para depois. Além de termos a confirmação de que a intervenção existe, apesar de não ser assumida e ainda manipulada pelo jornalista como uma possibilidade futura, fica claro de que a intenção é tirar o atual reitor e seus apaniguados e em seu lugar colocar gente de confiança de Marconi Perillo. Normal, mas para uma universidade que está entre as últimas na avaliação do INEP, o despotismo continuará colocando interesses partidários e politiqueiros à frente da produção de conhecimento e formação de pessoal qualificado para assumirem os desafios colocados para nós goianos:
Cinco universidades públicas apresentaram, pelo segundo ano consecutivo, baixo desempenho na avaliação do Ministério da Educação (MEC). As Universidades de Rio Verde (Fesurv), Estadual de Alagoas (Uneal), Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), Estadual de Goiás (UEG) e Estadual de Roraima (Uerr) tiveram, em 2008 e 2009, Índice Geral de Cursos da Instituição (IGC) igual a 2. Fonte: http://va.mu/FdNP
Em junho a UEG deveria apresentar um relatório para recredenciamento, porém, não se cumpriu o Protocolo de Compromisso celebrado entre a UEG e o CEE com a interveniência da Procuradoria Geral do Estado em 6 de outubro de 2006, confira: http://va.mu/FdOO
Ao que parece mais um jogo de cena, e infelizmente o CEE não tomou as medidas cabíveis apesar do descumprimento do compromisso. 
Eu particularmente não vejo com bons olhos todo o desenrolar da farsa estrelada pelo Governo do Estado de Goiás em relação à UEG. Alguns colegas querem crer que agora  com a publicação do relatório pela comissão de reestruturação teremos melhorias nas condições estruturais e pontuais na instituição. Aguardarei o acesso à integra do relatório para analise e comentário.
Apesar de todo imbróglio acredito que os professores continuam desempenhado seu papel com afinco e perseverança, mas para a UEG dar um salto de qualidade isso não basta, é preciso que o governo do estado desista do controle despótico e deixe a comunidade universitária livre para construir uma verdadeira universidade pública e de qualidade que os goianos merecem. 

domingo, 4 de setembro de 2011

Fascismo estatal e a indiferença do cidadão de bem

Na semana da pátria, que tal refletirmos sobre os outros e nós mesmos? 
O fascismo bate a nossa porta, e é preciso contestá-lo com todas nossas forças.

A criminalização do artista - Como se fabricam marginais em nosso país from Rafael Lage on Vimeo.

Para complementar um texto do jornalista Leonardo Sakamoto que reflete sobre o caso dos imigrantes e a mimesis de uma característica européia perversa: http://blogdosakamoto.uol.com.br/2011/09/02/estamos-mais-parecidos-com-a-europa-infelizmente/