quinta-feira, 30 de maio de 2013

MUSA VADIA

Marcha das Vadias, Goiânia, 07/07/2012 Fonte: http://goo.gl/tpUOP
Reproduzo reflexão do amigo Miguel, que musicalmente falando defende a rua como lugar de mulher.
Em Goiânia, capital de Goiás, terra de "coronelismo" latente e permanente algumas insistem em estar nas ruas afrontando a "boa moral", os "bons costumes", a "família patriarcal" e a "ordem pública".
Antes do texto, porém, um depoimento de Margarida Alves, paraibana, mulher do campo, uma musa vadia que pagou com a vida por estar no "espaço público" defendendo interesses dos "camponeses":
SOU BANDIDA, SOU SOLTA NA VIDA - 11/5/2013
Miguel dos Reis Cordeiro Neto
Foi desse jeito, completamente irreverente, que O Chico Buarque expressou a ideia de uma mulher feita sob medida para um homem. E acrescenta –  "sou perfeita porque, igualzinho à você, eu não presto". De fato, a ideia do Chico é muito complicada. Contudo, também muito interessante e de muito sentido no mundo pop. Haja vista o bordão, recentemente criado e lembrado por pessoas de todas as classes sociais que é aquele da Zorra Total, TV Globo, pra variar, quando a personagem Valéria, transformista, porque mandou pastar o pau do Valdemar, repete para a amiga de forma entusiasmada – "Ah! Como eu sou bandida!" 
Ação policial em Protesto Contra o Aumento da Passagem do Transporte Coletivo, Goiânia, 28/05/2013
A mulher que o Chico concebe, além de bandida, também é traiçoeira e vulgar, sem nome e sem lar, é filha da rua e cria da costela do homem que a cobiça. O que isso diz, afinal? Posso arriscar que a música do Chico é uma declaração de amor à rua. Rua aonde a moral burguesa não chega, aonde ninguém é de ninguém, aonde o palavrão vale muito, aonde a religiosidade e seu ideal de pureza passam longe, aonde, enfim, quem quer ficar solto na vida, tem grandes chances de conseguir. A magia da rua acontece na exata medida em que não é nada e é tudo: não é o lar, não é a família, não é a coisa moral, não é o politicamente correto, não é coisa de marido nem de esposa, não é coisa da escola nem da igreja, não é, principalmente, restrição à porra nenhuma que proíbe ou limita. A rua é o mundo, a liberdade louca, a coisa doida, o espaço da cobiça desbragada, do sexo quase explícito, ainda que pornográfico. 
O problema é que quem não é de nada, não topa nada e gosta de blefar que é "fodão", sem amarras e sem juízo, também quer estar na rua. Ainda que, apenas, simbolicamente. O Vinícius de Morais, que gostava muito da rua, mandava todos esses pra "tonga da mironga do cabuletê". 
A rua, por ser um espaço plural, também é um fenômeno de comunicação, de inclusão, de integração. Não existe para quem quer um momento de exceção, de libertação, de se colocar na esbórnia pra depois sair. Existe, antes, como oficina para a construção de mundos possíveis, de estados utópicos de alma, de viver "fora da nova ordem mundial", como diz o Caetano. Não é de gente que num momento de tédio procura o diverso, a diversão do diverso, a contramão do que é universo para, depois de distrair-se, voltar ao normal. 
Grandes e tremendas coisas foram feitas na rua: a revolução francesa, os diálogos irônicos de Sócrates, os atos de Cristo, conforme ele mesmo declarou a Pilatos, as caminhadas políticas de Gandhi, os discursos de Luther King e muito mais.
Realmente o Chico tem razão quando afirma que a mulher perfeita, feita sob medida está na rua, como ser político, filosófico, com a seríssima missão de desconstruir, de modo bandido, o mundo de quem não leva a vida e a rua à sério.

Leia mais em:http://blog.clickgratis.com.br/reiscordeiro/535333/SOU+BANDIDA%2C+SOU+SOLTA+NA+VIDA..html#ixzz2Un2Qny14

Botemos o bloco na rua - Marcha das Vadias 2013: Dia 09 de junho às 09 horas da manhã na Pç. Universitária - mais detalhes, aqui:

sexta-feira, 24 de maio de 2013

PARA MILITÂNCIA DO GOVERNADOR MARCONI PERILLO "É MELHOR FECHAR A UEG"

A política em Goiás é baseada em estruturas conservadoras, fruto ainda do coronelismo e de uma visão tradicional. A capacidade de mudança é mínima, pois a própria população tem uma visão clientelista.

No facebook militância digital do governador Marconi Perillo responde críticas feitas por alunos da Universidade Estadual de Goiás ameaçando e argumentando ser melhor fechar a UEG. Dois dias depois estão deletadas as críticas e as o argumento ameaçador, nenhuma novidade em se tratando da relação estabelecida entre um governo e seus críticos.
Desde que a Operação Monte Carlo desbaratou esquema de exploração de jogos ilegais e corrupção em Goiás e no Distrito Federal revelando forte influencia do bicheiro Carlinhos Cachoeira no governo do Estado de Goiás toda e qualquer crítica ao governador e aos atos do governo é tratada como calúnia, difamação que devem ser judicializadas. A liberdade de expressão, o avanço e a consolidação dos princípios democráticos em Goiás parecem comprometidas. Como as evidências abaixo parecem demonstrar:
- Nota do sindicato dos jornalistas contra a intimidação de jornalistas, aqui.
- Lista dos jornalistas processados, aqui.
- A defesa da judicialização foi feita pelos secretário Joaquim de Castro, leia aqui. E também pelo advogado do governador João Paulo Brzezinski, aqui. Vale lembrar que Brzenzinski teve seus bens retidos pois é suspeito de participação, junto com os ex-reitores José Izecias, Luiz Arantes e o ex-prefeito de Anápolis Pedro Saihum, em esquema de desvios de verbas da UEG, aqui.
- Mauro Marlin expõe a ambiguidade no discurso do PSDB sobre a liberdade de imprensa, aqui.
- Em blog de militantes do governador Marconi, afirmam que não há processo contra jornalistas, mas sim militantes, aqui.

A arrogância dos que apoiam o governo do "Avança Goiás" parece não ter limites, e alguns comentários nas redes sociais são sintomáticos. Ontem, 23 de maio, por volta das 20hs, a "Militância Digital que apóia o governador" e mantém a página Marconi Perillo Governandor no Facebook publicou uma foto com a mensagem: "A nossa missão é proteger o futuro dos jovens goianos", aqui.
Logo após a publicação alguns comentários apoiaram, outros criticaram a mensagem, que também foi compartilhada por algumas dezenas de seguidores. Porém, o que mais chamou a atenção foram as respostas dadas pela "militância digital" à crítica feita por alunos da UEG, onde desde o dia 25 de abril têm paralisadas as atividades em algumas unidades que aderiram à Greve Geral - mais informações, aqui.
As respostas já foram deletadas. A "militância" que respondeu aos críticos dizendo que se a mobilização na UEG e principalmente a inserção de críticas na página do Governador continuassem a Universidade Estadual de Goiás seria melhor fecha-la. O argumento ameaçador defendeu, ainda, que o fechamento da UEG contribuirá com mais verbas para o programa Bolsa Universitária.
Pelo jeito a militância defende a perspectiva do falecido ex-ministro da educação de Fernando Henrique Cardoso, Paulo Renato de Souza - Idelber Avelar apresenta o que a grande mídia não falou do ex-ministro, aqui. A perspectiva é a neoliberal, onde é igual mercado e não um direito. Uma lógica que o Ministério da Educação da era Lula e Dilma parece ter mantido, apesar da ampliação do ensino público superior e dos institutos federais e dos concursos públicos ligados a tal expansão, um panorama aqui.
Vejamos o que disse a "militância digital":

Na sequência reafirmam a ideia de que é melhor fechar a UEG. Como se não houvesse mérito em quem escolhe fazer um curso nessa instituição. Para a militância digital o mérito é uma prerrogativa apenas dos bolsistas que estudam em faculdades particulares. Seriam os militantes bolsistas? Conquistaram a bolsa por mérito ou clientelismo? 
Percebe-se que não entendem nada de UEG. 
Vale lembrar que Marconi se arvora a ser o pai da UEG, porém, o que fez foi oficializar uma ideia gestada nas faculdades municipais e estaduais isoladas. Havia um desejo de professores da Uniana, da Feclem, entre outras, de criar uma universidade estadual. Porém, astuto o "Tempo Novo" percebeu que  tal projeto daria visibilidade e destaque para o projeto de distanciamento dos antigos governos do PMDB - partido de onde saiu Marconi - e serviria para consolidar a ideia de governo moderno. Porém, o que se viu foi a criação de um monstro. Sem planejamento, abriram-se unidades e polos da UEG ao bel prazer dos acordos entre governo estadual com alguns prefeitos, enfim, os critérios parecem ter sido clientelistas - hoje são 42 unidades.
Goiás à fora diversos cursos funcionaram e ainda funcionam de maneira precária, sem laboratórios, com bibliotecas defasadas, sem professores e servidores efetivos - os salários para temporários são uma vergonha e nem um pouco atrativos, alguns cursos funcionam sem o quadro completo -, ainda que haja uma promessa de concurso para esse ano não haverá uma mudança tão significativa. Para se ter uma ideia existem professores e servidores em contrato temporário que estão a mais de 12 anos na UEG.
Os comentários tornam-se ainda mais simbólicos porque são publicados em um momento em que alunos, servidores e professores em greve bloqueiam rodovias em vários pontos de Goiás, vejam aqui
Percebe-se que realmente há uma preocupação com o futuro dos jovens de Goiás, mas daqueles jovens que participam da militância em apoio ao governo, aos filhos dos correligionários, à base de apoio, aos puxa-sacos e bajuladores.
A pergunta que fica é: até que ponto esta perspectiva da militância é também a do governo de Marconi Perillo?
Aos que criticam e se opõem a esse estado de coisas deplorável sobram ameaças, processos... fico a imaginar Brzezinski como desembargador, tétrico!!!!

segunda-feira, 13 de maio de 2013

TREZE DE MAIO DE 2013: negros, sujeitos abolicionistas


Escravo lendo sobre a campanha abolicionista - Angelo Agostini 

O treze de maio, como no caso do sete de setembro, foi transformado em um evento despido de qualquer radicalidade e conflito. Assim, as elites políticas e intelectuais nos legaram uma memória da abolição da escravidão como um feito da ousadia e consciência de abolicionistas e de uma princesa. Tal construção legou ao esquecimento as ações daqueles a quem realmente interessava a liberdade. Vários trabalhos já contestaram as perspectivas que negaram aos escravizados e aos negros libertos a participação nas lutas pela liberdade. Destaco trecho de uma obra que nos ajuda a ampliar a visão sobre os sujeitos históricos envolvidos no processo abolicionista e que não sei porque cargas d'água quase não se encontra presente nas narrativas dos atuais livros didáticos de História:

"Enquanto os anos [1870] revelam-se marcados pelos crimes feitos individualmente ou em pequenos grupos de escravos, os primeiros anos da década de 80 primam pelas revoltas coletivas ou insurreições, registradas em fazendas de diversos municípios.
[...] 
À medida que cresciam as fugas em massa das fazendas, sobretudo a partir dos últimos meses de 1887, radicalizava-se o movimento abolicionista nas cidades, em especial nos centros mais populosos, como Santos e São Paulo.
Ao contrário do que os abolicionistas do jornal paulista A Redempção estavam sempre a reafirmar - a fraca participação dos negros nesse movimentos -, os relatórios de 1887 e 1888 dedicam grandes espaços não só às fugas de escravos e conflitos nas áreas rurais, como também às lutas de negros com a polícia nas ruas das cidades.

'[...] os pretos que, no dia anterior, haviam provocado a força pública voltaram à carga, já desafiando as praças de polícia... Vendo-se, porém, que o tumulto aumentava e com ele o número de negros, que erguiam vivas à liberdade e morras aos escravocratas, estabelecendo desta forma o pânico entre as famílias que estavam no jardim do Palácio, mandou-se que os portões de entrada fossem guardados por praças de Cavalaria...
Assim impedidos de penetrarem no jardim, os desordeiros lançaram então mão de outro expediente, qual o de utilizarem-se das pedras que achavam-se em frente à nova Tesouraria, para arremessá-las contra as praças que guardavam os portões, e o mesmo fizeram aos soldados que nessa ocasião tentaram prender dois dos desordeiros que, de cacete, acometiam a força...' (Relatório do Chefe de Polícia Interino da Província de São Paulo, 30 de novembro de 1886)

Para que os interesses do capital saíssem intatos desta época de instabilidade geral das relações de produção, era preciso, portanto, firmar-se uma união nacional...
No início de maio de 1888, os políticos dos três partidos - Liberal, Conservador, Republicano, aos quais se filiavam escravistas, emancipacionistas e abolicionistas indistintamente - deram-se as mãos num consenso quase absoluto e votaram a Lei de Abolição, clamando em meio a loas e hinos à pátria pela conciliação, o que queria dizer esquecimento dos conflitos passados e sobretudo não-revanchismo."

In: AZEVEDO, Celia Maria M. ONDA NEGRA, MEDO BRANCO: o negro no imaginário das elites - século XIX. RJ: Paz & Terra, 1987, pp. 199-215.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

PARENTES DO FUTURO


O que faz andar a estrada? É o sonho.
Enquanto a gente sonhar, a estrada permanecerá viva.
É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro
Mia Couto


A Escola da Ponte idealizada por Zé Pacheco é o modelo para tal experimento, acesse aqui uma publicação que expõe parte de seu pensamento sobre a educação: LINK