segunda-feira, 13 de maio de 2013

TREZE DE MAIO DE 2013: negros, sujeitos abolicionistas


Escravo lendo sobre a campanha abolicionista - Angelo Agostini 

O treze de maio, como no caso do sete de setembro, foi transformado em um evento despido de qualquer radicalidade e conflito. Assim, as elites políticas e intelectuais nos legaram uma memória da abolição da escravidão como um feito da ousadia e consciência de abolicionistas e de uma princesa. Tal construção legou ao esquecimento as ações daqueles a quem realmente interessava a liberdade. Vários trabalhos já contestaram as perspectivas que negaram aos escravizados e aos negros libertos a participação nas lutas pela liberdade. Destaco trecho de uma obra que nos ajuda a ampliar a visão sobre os sujeitos históricos envolvidos no processo abolicionista e que não sei porque cargas d'água quase não se encontra presente nas narrativas dos atuais livros didáticos de História:

"Enquanto os anos [1870] revelam-se marcados pelos crimes feitos individualmente ou em pequenos grupos de escravos, os primeiros anos da década de 80 primam pelas revoltas coletivas ou insurreições, registradas em fazendas de diversos municípios.
[...] 
À medida que cresciam as fugas em massa das fazendas, sobretudo a partir dos últimos meses de 1887, radicalizava-se o movimento abolicionista nas cidades, em especial nos centros mais populosos, como Santos e São Paulo.
Ao contrário do que os abolicionistas do jornal paulista A Redempção estavam sempre a reafirmar - a fraca participação dos negros nesse movimentos -, os relatórios de 1887 e 1888 dedicam grandes espaços não só às fugas de escravos e conflitos nas áreas rurais, como também às lutas de negros com a polícia nas ruas das cidades.

'[...] os pretos que, no dia anterior, haviam provocado a força pública voltaram à carga, já desafiando as praças de polícia... Vendo-se, porém, que o tumulto aumentava e com ele o número de negros, que erguiam vivas à liberdade e morras aos escravocratas, estabelecendo desta forma o pânico entre as famílias que estavam no jardim do Palácio, mandou-se que os portões de entrada fossem guardados por praças de Cavalaria...
Assim impedidos de penetrarem no jardim, os desordeiros lançaram então mão de outro expediente, qual o de utilizarem-se das pedras que achavam-se em frente à nova Tesouraria, para arremessá-las contra as praças que guardavam os portões, e o mesmo fizeram aos soldados que nessa ocasião tentaram prender dois dos desordeiros que, de cacete, acometiam a força...' (Relatório do Chefe de Polícia Interino da Província de São Paulo, 30 de novembro de 1886)

Para que os interesses do capital saíssem intatos desta época de instabilidade geral das relações de produção, era preciso, portanto, firmar-se uma união nacional...
No início de maio de 1888, os políticos dos três partidos - Liberal, Conservador, Republicano, aos quais se filiavam escravistas, emancipacionistas e abolicionistas indistintamente - deram-se as mãos num consenso quase absoluto e votaram a Lei de Abolição, clamando em meio a loas e hinos à pátria pela conciliação, o que queria dizer esquecimento dos conflitos passados e sobretudo não-revanchismo."

In: AZEVEDO, Celia Maria M. ONDA NEGRA, MEDO BRANCO: o negro no imaginário das elites - século XIX. RJ: Paz & Terra, 1987, pp. 199-215.

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