quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O RÁDIO NÃO ACABOU COM A FAMÍLIA


Se hoje o casamento gay é tido como uma ameaça a família, na primeira metade do século XX, para Mário de Andrade, o rádio era a ameaça:
"Na sociedade contemporânea, com a ascensão do proletariado e da pequena burguesia a ele adesiva, os dois grandes instrumentos musicais do nosso tempo, vitrola e rádio, especificamente popularescos, mostram a definitiva derrota da vida familiar (substituição do piano - família, pelo rádio = colectividade popularesca) como princípio básico da sociedade".   Mário de Andrade em carta para Oneyda Alvarenga, 1940 (Apud, QUINTERA-RIVERA, Mareia. A cor e o som da nação: a idéia de mestiçagem na crítica musical do Caribe hispânico e do Brasil (1928-19480). São Paulo: Annablume/FAPESP, 2000, p.119)
As primeiras transmissões radiofônicas no Brasil ocorreram em 1922, no link a seguir o site de Magali Prado - certamente o mais completo sobre a história do rádio no Brasil: http://www.historiadoradionobrasil.com.br/
Nos 90 anos de rádio no Brasil o Observatório da Imprensa realizou um programa especial, que conta com a própria Magali Prado e outros especialistas, além de gente que ajudou a fazer o rádio no Brasil. Vale a pena ser visto: 
Enfim, o rádio não acabou com a família - inclusive algumas famílias foram formadas através da mediação radiofônica -, e nem as transformações tecnológicas acabaram com o rádio. Certamente a família e o rádio não são os mesmos da década de 20 do século passado, transformações inevitáveis, pois nada é constante entre o céu e a terra, sobretudo quando se trata de produtos humanos. 
Aliás, se Mário de Andrade, um homem de sexualidade indefinida, vivesse nos dias de hoje, caracterizados por uma moralidade mais maleável, possivelmente não faria ressalvas ao casamento gay e quiçá defenderia o rádio analógico contra o rádio digital pela preservação da qualidade sonora.

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