terça-feira, 12 de março de 2013

"DERRAMA SOBRE NÓS O SEU AMOR..."

Enquanto os católicos aguardam em oração o Conclave e a escolha do novo Papa relembro trechos de duas grandes obras ("Os irmãos Karamazov" do russo Fiódor Dostoiévski; "Casa-grande & senzala" de Gilberto Freyre) que nos falam do amor de cristo atuando nas relações entre os educadores cristãos e seus pupilos. 

'Gregório ensinou-o a ler e a história sagrada desde que completou 12 anos. Mas esta tentativa foi infeliz. Um dia, numa das primeiras lições, o menino pôs-se a rir. 
- Que tens? - perguntou Gregório, olhando-o severamente por cima de seus óculos.
- Nada. Deus criou o mundo no primeiro dia; o sol, a lua, e as estrelas no quarto dia. Donde vinha, pois, a luz do primeiro dia?
Gregório ficou estupefato. O menino olhava seu amo com ar irônico, seu olhar parecia mesmo provocá-lo. Gregório não pode contentar-se: "Eis donde ela veio!", exclamou, esbofeteando-o violentamente.'
Fiódor Dostoiévski. Os irmãos Karamazov. São Paulo: Abril Cultural, 1970, p. 126
'Os padres-mestres e os capelães de engenho, que, depois da saída dos jesuítas, tornaram-se os principais responsáveis pela educação dos meninos brasileiros, tentaram reagir contra a onda absorvente da influência negra, subindo das senzalas às casas-grandes; e agindo mais poderosamente sobre a língua dos sinhô-moços e das sinhazinhas do que eles, padre-mestres, com todo o seu latim e com toda a sua gramática; com todo o prestígio das suas varas de marmelo e das suas palmatórias de sicupira. Frei Miguel do Sacramento Lopes Gomes era um dos que se indignavam quando ouvia "meninas galantes" dizerem "mandá", "buscá", "comê", "mi espere", "ti faço", "mi deixe", "muler", "coler", "le pediu", "cadê ele", "vigie", "espie". E dissesse algum menino em sua presença um "pru mode" ou um "oxente"; veria o que era o beliscão de frade zangado.'
Gilberto Freyre. Casa-grande & senzala. 46ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2002, p. 389.

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