quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

'O MUNDO É DIFERENTE DA PONTE PRA CÁ'

Compartilho um texto de um sujeito especial, Jefferson Acevedo.

Cruzei com Jefferson Acevedo no Colégio Estadual Villa Lobos, no Garavelo, nem Goiânia, nem Aparecida, onde ele era estudante do terceiro ano de ensino médio em 2006 e eu professor de História recém concursado. No ano anterior quando falei com os alunos do terceiro sobre curso superior, riram de mim e entre outras coisas me disseram: "pobre não tem condição de pagar faculdade". Pude constatar uma distância enorme entre as expectativas dos alunos e a universidade, algo parecido com meu sentimento quando criança quando vinha passar férias na casa de minha avó que morava no bairro Novo Horizonte e o coletivo que pegávamos era a linha Garavelo que em minha cabeça de criança era imensamente longe, já que depois do Novo Horizonte havia chácaras, fazendas e cerrado e nem se via o Garavelo.
Jefferson conseguiu pular o fosso e hoje está concluindo o curso de História na UEG-Anápolis, atua no movimento estudantil. Ele e seus parceiros criaram um cursinho pré-vestibular gratuito em Anápolis e ele me disse que os alunos chegam sem nenhuma ideia do que é a universidade: "muitos querem fazer só o Enem, porque acham que a faculdade privada é melhor".


Pelo direito de AMAR e DECIDIR!
No dia doze de janeiro em Anápolis/Goiás. Fiquei estarrecido, bestificado, perplexo, enfurecido, assustado com a marcha “contra a ditadura homossexual e o aborto”, que ocorreu na Praça Bom Jesus no centro da cidade. Primeiro vamos discutir o que seria ditadura, podemos afirmar que seja uma imposição de idéias, modelos de vida, hábitos e violência sobre outros. Já aqui contradizendo o termo “ditadura homossexual”, uma vez que desde a infância nos adaptamos ao heteronormatismo, aprendemos a sermos homofóbicos, sexista, racista e cristão tendo dificuldade de aceitar e respeitar o diferente, nesse sentido a ditadura é imposta por quem exerce o poder político ideológico, o que não é o caso dos homossexuais, nem das mulheres que fazem aborto improvisado devido a criminalização.
Mesmo convivendo com Gays a longa data, continua-se sendo hétero, a orientação sexual não pode ser determinada por amar seus amigos gays. As pessoas estão acima da orientação sexual, sofrem, amam, odeiam, enfrentam a contradição, nascem e morrem, tem filhos. E os filhos de homossexuais nem sempre são gays, como filh@s que só tem a mãe ou o pai não se tornam homossexuais necessariamente. Sendo o trato e o cuidado desses pais GAYS, o qual permite à vários meninas e meninos abandonados pela família tradicional em orfanatos, reformatórios e nas ruas, o direito à uma família onde serão acolhidos e amados como também será proporcionando compreensão, diferente da igreja que não acolhe os milhares de menin@s que habitam as ruas de Goiás, a não ser que aceite seus dogmas e assuma seus pecados diante de um mundo contraditório e nefasto, o qual não foi criado por eles!
Para o homem é fácil ser contra o aborto, a gestação não está nele, e no máximo irá arca com aproximadamente 30% de sua renda, caso a justiça assim estabeleça nos ramos legais. Como homem poderia afirmar: o corpo não é meu, o sofrimento não é meu, a dor não é minha e muito menos a responsabilidade, tem um discurso das feministas que muito participa desse debate “se o papa fosse mulher o aborto seria liberado”. Assisti atônito, vários coroinhas, homens diga-se de passagem, contra o aborto e a homossexualidade e posso afirmar depois de 1000 anos de santidade, isso mesmo mil anos de idade média os homossexuais não sumiram da face da terra e as mulheres exigem seus direitos, no mundo antigo existiam homens que mantinha relações sexuais com outros homens(não sendo homossexuais, porque não quero cometer aqui anacronismo), e me pergunto todos os dias, Deus nos fez para sentir prazer, por que nosso corpo nos apresenta enquanto zona erógena, me permitindo diversas formas de satisfação sexual? E o direito de amar está acima da religião uma vez que sou guiado pelo mandamento supremo, amais uns aos outros!
Paulo Freire em uma de suas entrevistas disse: Como ocorre a marcha dos movimentos agrários deveria também ter a marcha dos que não podem amar, e não podem ser, os homossexuais e a mulheres que não tem o domínio de seu corpo, como também toda a sociedade deve engrossar essa marcha. O direito de AMAR! Pergunto-me, porque algo tão antinatural (segundo a Igreja) existe desde os primórdios da humanidade? É simplesmente o direito de AMAR.
As Católicas pelo Direito de Decidir, grupo organizado dentro da igreja católica, demonstram que é possível ter fé, amar a Deus sobre todas as coisas e ter opinião critica nessa sociedade, sendo a favor do aborto uma vez que o corpo pertence às mulheres e é delas o direito de decidir quando devem ter ou não um filho. O corpo da mulher não pertence ao homem para decidir por ela, da mesma forma o homossexual não pertence ao heterossexual para que ele possa determinar as formas e posturas a serem seguidas.
Parafraseando orações para Bobby: há varias crianças em suas congregações, desconhecidas por vós, ouvindo vocês, e isso depressa silenciara suas preces, suas preces a Deus: por compreensão, por aceitação e pelo amor de vocês, mas o seu ódio e medo, pela palavra gay ira silenciar esses preces. Por isso... Antes de ecoarem Amém... Pensem! Uma criança está ouvindo!
E diante de tudo isso eu ainda tenho um sonho, no qual o meu país torne-se politizado, onde as pessoas saibam votar, que a democracia direta reine e todos os preconceitos sejam abolidos. Que as divergências religiosas não estejam acima do principal mandamento “amai uns aos outros como a si mesmo”, que o ser humano seja a instância máxima de liberdade. Tenho um sonho de mobilização e participação na construção do poder popular como antes nunca deslumbrado por outra sociedade, que a comida seja para alimentar e a casa para morar, o transporte para o bem viver e a educação para emancipar!

Jefferson Acevedo
D.A. UnUCSEH/UEG
Educador Social/Recid-GO
Militante do Partido dos Trabalhadores
Fonte: http://pagina13.org.br/archives/12397


Abaixo uma reportagem que possibilita uma visão mais abrangente sobre o fosso existente entre os alunos de escola pública e a universidade pública, precisamos de pontes!
http://www.humorpolitico.com.br/index.php/2011/09/14/escola-publica-privad/

Cotas ainda têm baixa adesão de estudantes da escola pública


Número de inscritos ao vestibular da UFG oriundos da rede pública aumenta a cada ano, mas está longe do ideal. para pró-reitora, alunos desconhecem as propostas de inclusão

Patrícia Drummond

A cada vestibular, desde que foi aprovado, em agosto de 2008, o Programa UFG Inclui, da Universidade Federal de Goiás (UFG) - que estabeleceu o sistema de cotas na instituição, a partir do processo seletivo 2009-1 - vem aumentando o número de candidatos inscritos. Mas ainda está longe do ideal, segundo avalia a pró-reitora de Graduação da universidade, Sandramara Matias Chaves. Segundo ela, ainda é minoria o número de estudantes oriundos da escola pública - aos quais as cotas são direcionadas - que ao menos se inscrevem para tentar o vestibular da UFG.
"As ações afirmativas propostas pelo UFG Inclui têm o objetivo de estimular a participação de estudantes de escolas públicas no nosso processo seletivo. Entretanto, consideramos que, em relação ao número de concluintes do ensino médio, na rede pública, o porcentual daqueles que se inscrevem no vestibular da universidade ainda é pequeno", destaca Sandramara.
A pró-reitora cita, por exemplo, que dos cerca de 54 mil concluintes do ensino médio em escolas públicas, em 2009, pouco mais de 8 mil, apenas, se inscreveram para o vestibular 2009-1 da UFG. "Esses números fizeram com que a UFG decidisse intensificar a divulgação de suas propostas de inclusão, o que fizemos neste ano", acrescenta, lembrando os projetos UFG vai à Escola, Conhecendo a UFG e Espaço das Profissões, em que o Programa UFG Inclui é apresentado a alunos e professores da rede pública.
Sandramara Chaves diz acreditar que boa parte dos estudantes da rede pública de ensino, em Goiás ainda desconheça as propostas de inclusão da UFG. Talvez por isso, pondera, eles não se sintam estimulados a tentar uma vaga na universidade. "Por que esses alunos optam pelo vestibular das particulares e não vão direto procurar o vestibular da instituição pública? Nossa intenção é proporcionar condições para que essa realidade se transforme", argumenta a pró-reitora de Graduação.
No vestibular 2009-1, de um total de 31.493 inscritos, 7.963 optaram pelo sistema de cotas oferecido pela UFG - são 20% das vagas reservadas a estudantes de escola pública e 20% a negros de escola pública. Um ano depois, o vestibular 2010-1 teve 30.579 candidatos, dos quais 8.509 se inscreveram pelo UFG Inclui. Para 2011-1 - cujas provas da primeira fase serão realizadas no próximo dia 21 -, 9.446 candidatos farão o exame por meio das cotas no maior vestibular da instituição, com 34.739 inscritos.
Aluna do 3º ano do ensino médio no Colégio Estadual Senador Teotônio Vilela, no Conjunto Vera Cruz 1, Rosyanamar Régis Pereira, de 17 anos, não se inscreveu para fazer o vestibular da UFG. Ela fez, sim, há uma semana, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para tentar uma bolsa pelo Programa Universidade Para Todos (ProUni), do governo federal, caso consiga entrar em uma faculdade particular.
"Não me sinto preparada psicologicamente nem em termos de conteúdo para enfrentar a concorrência na Federal, mesmo sabendo que existe esse sistema de cotas", alega a estudante. "Pelo menos por enquanto me sinto insegura. Talvez eu tente a UFG no meio do ano; agora, vou tentar, mesmo, uma particular", completa, apontando a frequente substituição de professores, o atraso no conteúdo das disciplinas e a "falta de interesse" geral com a escola pública como os motivos de sua insegurança.
Rosyanamar conta que estudou bastante para as provas do Enem 2010, realizadas no último dia 6, mas, com as recentes falhas no exame - somadas às ocorridas no ano passado, com o Enem 2009 -, afirma estar "meio desanimada". "Embora tenha me saído até bem, com tudo o que aconteceu estou em dúvida; não tenho mais certeza se estarei, realmente, em uma faculdade no ano que vem", lamenta a secundarista, que sonha em fazer Psicologia, Terapia Ocupacional ou Musicoterapia.
Para os governantes, professores, direção e colegas da escola pública, ela deixa um recado: "Existem muitos problemas de infraestrutura, fazem greve por melhores salários e acho que tudo isso é importante. Mas falta buscar um novo significado para o ensino público, para que nós, alunos, possamos acreditar no nosso potencial."

Desigualdade se reflete no ensino superior
"Não tenho a mínima chance no vestibular da UFG; por isso, nem fiz inscrição", declara Morgana de Carvalho Souza, de 17 anos, aluna de escola pública que também tem no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) a esperança de ingressar no curso superior em uma faculdade particular, por meio de bolsa. Desestimulada por causa dos últimos acontecimentos envolvendo o exame, ela já pensa em adiar para 2012 o projeto de se tornar universitária. "Até lá, dá tempo de fazer cursinho", alega.
Para o professor João Ferreira, da Faculdade de Educação da UFG, que mantém estudos na área de políticas públicas educacionais, nem o sistema de cotas nem o Enem ainda são capazes de promover uma inclusão mais ampla no ensino superior, "na dimensão da diferença social" existente, historicamente, no Brasil. "O sistema de acesso à universidade é muito elitizado socialmente. A desigualdade é de origem econômica, social e cultural e se reflete no ensino superior", diz ele.
Na opinião do especialista, uma real inclusão do estudante oriundo da escola pública à universidade pública só ocorreria se o patamar da reserva de vagas fosse estabelecido na mesma proporção do que ocorre no Ensino Médio: "Hoje, 85% dos jovens brasileiros de 15 a 17 anos estão matriculados na rede pública e só 15% na rede privada. O ideal seria manter, nos sistemas de cotas, essa mesma proporção, o que acabaria gerando uma grande e polêmica discussão", reconhece.
José Ferreira acredita que, se ainda é pequena a procura dos alunos da rede pública pelos programas de inclusão universidades públicas, é porque os porcentuais destinados a essas vagas não estão interferindo tanto na realidade daqueles estudantes. "Tentar uma bolsa em uma faculdade particular acaba sendo uma chance mais real", argumenta, lembrando que a questão passa, também, pela construção de um ensino público - em nível fundamental e médio - com padrão de qualidade, além da expansão - com maior oferta de vagas - do ensino público superior. 
Quase 50% dos inscritos optaram pelo Enem
Dos mais de 34 mil candidatos que farão o vestibular 2011-1 da Universidade Federal, quase 50% optaram, no ato da inscrição, pelo aproveitamento da nota do Enem 2010 para a composição da média final no processo seletivo. São cerca de 18,7 mil inscritos interessados na prova de Conhecimentos Gerais do Ministério da Educação como tentativa de somar pontos no vestibular da UFG.
A esses candidatos, a pró-reitora de Graduação Sandramara Matias Chaves informa que não haverá prejuízo algum, em função do problema com os cartões de respostas e parte dos cadernos de perguntas. De acordo com ela, como a nota do Enem só é computada na média final, caso ocorram imprevistos "a nota do Enem simplesmente não será utilizada".
Sandramara explica que, conforme o edital da UFG, a composição de nota, no vestibular, para classificação dos candidatos, terá por base a soma dos pontos obtidos na primeira etapa, mais a nota do Enem (adequada ao mesmo padrão de pontos da primeira etapa), na escala de 0 a 90, exceto a prova de Redação, mais os pontos obtidos na segunda etapa. Mesmo assim, a nota do Enem só será utilizada caso seja maior do que a pontuação obtida nas provas da primeira etapa; será aproveitado, portanto, o melhor desempenho do candidato.
Apesar das falhas na aplicação do Enem, por duas vezes consecutivas, ela defende a iniciativa do governo federal. "Trata-se de um processo que está sendo construído gradativamente, com base em uma metodologia que apresenta amplo respaldo na literatura internacional", pondera, referindo à Teoria de Resposta ao Item (TRI). A Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil divulgou nota oficial a respeito, declarando que a TRI garante a isonomia das provas do Enem, ainda que aplicadas em períodos diferentes. A TRI se baseia em modelos matemáticos que permitem a elaboração de provas com o mesmo grau de dificuldade.
Fonte: http://nucleoikatu.blogspot.com/2010/10/educacao-essa-palavra_24.html

2 comentários:

  1. Na maioria dos casos, o que ocorre é que o aluno oriundo de escola pública mesmo sendo 'privilegiado' com o sistema de cotas, não se sente preparado pra prestar vestibular na universidade pública e conseguir uma vaga. E aqueles que acreditam e conseguem entrar ainda se veem meio perdidos em sala de aula onde é exigido um preparo que eles não tem justamente por terem vindo de escolas que não deram base o suficiente. Eu muitas vezes me senti meio peixe fora d'água quando algum professor falava de um tema que eu nunca tinha escutado. Estudei a vida toda na rede pública, onde o tempo pra aprendizado parece ser menor, os livros didáticos são de má qualidade, não existe estrutura, nem recursos, e mesmo sendo acadêmica de uma Universidade também sem recursos porque também é pública, me sinto deslocada com a exigência de algo que deveríamos ter aprendido lá na escola. E a educação, a cada novo governo, retrocede mais um pouco...


    Parabéns pelo blog!

    P.s.: gosto MUITO desse texto do Jefferson. :)

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    1. Olá Luana, primeiramente agradeço pela visita, fique a vontade para comentar, sugerir e criticar.
      Seu comentário é um testemunho eloquente sobre a experiência das crianças e jovens que estudam no ensino público. Também sou oriundo da escola pública e ao terminar o terceiro ano do ensino médio científico não me sentia preparado para prestar vestibular e muito menos tinha ideia do que eu poderia fazer. As causas parecem ter sido o somatório de perspectivas familiares e de meus professores, tanto uns quanto os outros não conseguiam enxergar para além do fosso que nos mantinham distantes da universidade, ainda mais para sujeitos do interior.
      Infelizmente não foram construídas pontes entre a universidade pública e a escola pública, por ora meras pinguelas, pois os verdadeiros privilegiados mesmo com possibilidade de pagarem um curso superior não irão desistir da melhor formação que ainda está nas universidades públicas, sobretudo as federais.
      O importante é que sujeitos como nós que vivemos essa realidade, que tivemos que nos esforçar muito mais para acompanhar o nível exigido, não nos esqueçamos de defender uma escola pública de qualidade.
      Hoje já existe um movimento de pais de classe média que estão matriculando seus filhos na escola pública. Pais com maior formação e visão crítica poderão contribuir para essa transformação, não basta esperar pelo próximo governo.
      Tudo de bom e volte sempre!

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