sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Papéis!!!

Fico a imaginar o papel da Universidade para a mudança desse estado caótico em que se encontra a educação básica, o foco deste artigo que venho socializar com vocês. Pois inseridos nos "centros de saber e produção de conhecimento" reproduzimos preconceitos, egoísmos, e mais do que construir pontes, aprofundamos os fossos. Me lembro de uma reunião em que se discutia o estágio curricular e um colega argumentava porquê não poderia desempenhar a função de professor na área, pois não iria se sujeitar à "selva" das escolas públicas.
Hoje em matéria do jornal Hoje, sobre a depredação de uma delegacia em Cururupu no interior do Maranhão, a todo instante a repórter remetia-se à selvageria das pessoas que agiram, mas não por serem selvagens, mas sim pela desconfiança na polícia, na justiça de seu estado, mas também do Brasil. O incoformismo e a ação revoltosa contra a apatia, e o sentimento de injustiça, sempre são taxados de vandalismo e selvageria, aparecendo aí os traços do racismo que é a base da estrutura desigual e autoritária de nosso país e do próprio sistema-mundo. O que me fez lembrar outro episódio onde um grupo do MST visitou uma faculdade de "ciências humanas e filosofia” e o diretor pediu para fechar as portas para que os vândalos não entrassem no espaço público.
Produzir saber, educar podem e devem ser saídas para a melhoria das condições de desrespeito a dignidade humana, mas será que estamos no caminho certo? O artigo abaixo longe de ser mera coincidência é o espelho do que vivemos em Goiás. Comparando os editais para o cargo de professor de educação básica de Goiás (para cadastro de reserva) e Tocantins (2.198 vagas) percebemos como aqui o desrespeito começa com o vencimento que é praticamente a metade do nosso estado irmão. Um professor com 40 horas em Goiás irá receber R$ 1.209,08 (20 horas= R$ 604,54), enquanto lá chegaria a R$ 2.181,60 (20 horas= R$ 1.090,80), é brincadeira? Não. É a política dos coronéis. O episódio do senador fazendo gestos de que o dinheiro da educação estaria no bolso é exemplar.


O Tempo, 27/08/2009 - Belo Horizonte MG
O professor e seu papel
Walakson A. Simões

Com dez anos de experiência, acredito que a educação está passando por um período crítico, de grandes conflitos. É preciso repensar. Antes, possuíamos uma educação extremamente punitiva e excludente. Hoje, estamos atravessando um processo de mudanças que visa à inclusão social, respeito às diferenças e valorização das habilidades múltiplas. Porém, devido aos falsos conceitos e preconceitos arraigados, ainda engatinhamos rumo a uma educação verdadeiramente inclusiva e de qualidade.
A repressão excessiva e a punição foram substituídas por um excesso de liberdade. O próprio sistema capitalista corrompe as crianças e os jovens diariamente, incentivando o consumismo, como se o ter fosse mais importante que o ser. Os jovens estão perdidos, implorando por limites. O ter não preenche o vazio existente. Crianças e jovens não possuem maturidade para compreender tal fato e se sentem cada vez mais sem referência. Aumentam a frustração e a falta de perspectiva. O professor não está dando conta de tantos papéis: ser pai, mãe, amigo, psicólogo, assistente social, entre vários outros. Criou-se uma escola para todos, que visa atender à demanda dos alunos, mas não foi equipada para tal. Existe a necessidade de profissionais preparados para atuar em parceria com os professores. O número de mestres com problemas de saúde é preocupante. Não existe tempo para o planejamento e troca de experiências, para o atendimento às necessidades individuais dos alunos. A educação inclui o conhecimento acadêmico, mas também o lado humano.

A escola é o primeiro ambiente que uma criança freqüenta longe de seus pais e deveria ser um espaço agradável. No entanto, os ambientes físicos são os piores possíveis. Salas de aulas reduzidas em relação ao elevado número de alunos, carteiras desconfortáveis, a maioria com quadro negro e giz, telhados de amianto e péssima circulação do ar. Não existem áreas de lazer adequadas, enfim, há uma série de irregularidades. As políticas governamentais objetivam, na maioria das vezes, interesses quantitativos, números que podem ser convertidos em "bônus". Quanto maior o índice de pessoas com diplomas de escolaridade, maiores são as verbas repassadas às diversas instâncias do Poder Público. O qualitativo é, na maioria das vezes, ignorado. Exames em nível estadual e nacional são aplicados periodicamente para avaliar o grau de desempenho dos alunos. Quais são as regras usadas nessas avaliações? Como uma mesma avaliação pode ser aplicada sem considerar as diferenças socioeconômicas e culturais de cada comunidade? As teorias educacionais minimizam o problema, ao responder às questões atuais, delegando aos profissionais da educação responsabilidades que não são especificamente deles, e, sim, reflexo da conjuntura econômica e social. Punir e culpar o professor por um fracasso que é reflexo de uma sociedade consumista, desigual, desumana, competitiva.

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